Meios na mídia informaram nesta quinta-feira (14) que “instituto americano confirma La Niña no próximo verão”. A notícia publicada dá conta que a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos atualizou nesta quinta-feira, 14, sua projeção para o clima e admitiu a possibilidade de La Niña no verão de 2021.

A manchete é enganosa e a notícia publicada incompleta e que confunde o público. O que há, de fato, sobre La Niña nos comunicados da agência climática do governo norte-americano. Todos os meses, ao redor da metade do mês, a NOAA publica um boletim mensal de atualização sobre as condições do Pacífico e as tendências para os próximos meses. Em nenhum momento o boletim do dia de hoje confirma La Niña no próximo verão (inverno no Hemisfério Norte). Sequer a palavra “inverno” que corresponderia ao nosso verão de 2021 é mencionada.

O boletim diz textualmente: “o consenso de prognosticadores favorece condições neutras no Oceano Pacífico no verão (inverno nosso) e no outono (primavera aqui), e se inclina um pouco para La Niña no fim do ano (~45%)”. O órgão climático dos Estados Unidos, assim, em nenhum momento confirmou La Niña no nosso verão de 2021. O que sugere é uma possibilidade de La Niña que estima em 45% para o fim de 2020. O mesmo boletim acautela que existe um “considerável spread” (grande divergência nas projeções dos modelos) no longo prazo, ou seja, para o fim do ano e 2021.

O que existe para 2021 são probabilidades a partir de dados de modelos climáticos de El Niño, neutralidade e La Niña. Trata-se de um produto bruto mantido pela Universidade de Columbia e não uma previsão resultante de consenso entre meteorologistas.

No caso do trimestre de verão de 2021 (dezembro de 2020 a fevereiro de 2021), a probabilidade hoje indicada é de 46% de chance de La Niña, 42% de neutralidade e 12% de El Niño. Somente se a NOAA emitiu um La Niña Watch ou La Niña Warning o órgão passará a oficialmente alertar para a possibilidade de um evento de La Niña e isso não deve ocorrer tão cedo.

A MetSul vem reiteradamente informando da tendência de resfriamento do Pacífico nos próximos meses, mas destaca que é cedo para afirmar que haverá um episódio de La Niña. Maio ainda é um mês do chamado período da barreira de previsibilidade em que a confiabilidade dos modelos de clima de longo prazo é mais baixa. A crença hoje da MetSul é que o verão de 2021 deve se dar com uma neutralidade fria (o de 2020 foi de neutralidade quente) ou La Niña, ambos cenários que agravam o risco de estiagem.

O resfriamento do Pacífico, entretanto, já deve influenciar o inverno e a primavera com aumento da possibilidade de eventos de frio mais intenso, e os tardios são os que mais preocupam. O impacto na chuva quando o Pacífico começa a se resfriar na metade do ano tende a ser seguida mais no fim do ano, na segunda metade do inverno, e independente das condições do Pacífico o inverno pode ter eventos de chuva volumosa. Há muitos precedentes de enchentes no Sul do Brasil no inverno e no começo da primavera com neutralidade fria ou La Niña. Meses mais secos no inverno ocorrem seja por frio intenso e muito freqüente ou por padrão de bloqueio atmosférico que traz muita chuva na Argentina e no Uruguai com temperatura muito acima da média no Sul do Brasil.