As inundações na Emilia-Romagna, no Norte da Itália, deixaram pelo menos oito mortos e obrigaram o cancelamento do GP de Fórmula 1 previsto para este fim de semana na região. “O número de vítimas subiu para oito”, disse a vice-presidente da Emilia-Romagna, Irene Priolo, à imprensa, nesta quarta-feira, atualizando o balanço anterior de cinco óbitos.

Bombeiros voluntários em bote numa rua inundada pelo rio Savio no distrito de Ponte Vecchio em Cesena, Centro-Leste da Itália. Os trens foram parados e as escolas fechadas em muitas cidades, enquanto as pessoas foram instadas a deixar os andares térreos de suas casas e evitar sair. | ALESSANDRO SERRANO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O presidente regional, Stefano Bonaccini, mencionou “muitos desaparecidos”. As ruas de várias localidades ficaram submersas pelas águas, após chuvas torrenciais na região. Muitos moradores se viram isolados e procuraram refúgio nos telhados das casas.

Segundo o ministro da Defesa Civil, Nello Musumeci, 50.000 pessoas ficaram sem energia elétrica, e cerca de 5.000 foram resgatadas com a ajuda de botes infláveis e de helicópteros. “Nada será como antes, porque este processo de tropicalização que está aumentando na África agora também está afetando a Itália”, acrescentou Musumeci.

“Nasci aqui e nunca vi nada parecido. Desta vez, ficamos com medo de verdade”, disse à AFP Simona Matassoni, proprietária do hotel Savio em Cesena, na costa do Adriático. Na madrugada de terça-feira para quarta-feira, os moradores dos arredores de Forli, onde foi encontrada a primeira vítima fatal, tiveram de fugir descalços e com água até o peito, observou um fotógrafo da AFP.

“Isso é o fim do mundo”, afirmou o prefeito de Forli, Gian Luca Zattini, em uma publicação no Facebook. “A cidade está de joelhos, devastada e sofrendo”, disse. Cerca de 37 municípios sofreram inundações, enquanto muitos também relataram deslizamentos de terra.

Dois dos corpos em Forli foram recuperados por mergulhadores na manhã de quarta-feira, como parte de um grande esforço de resgate envolvendo serviços de emergência, forças armadas e mais de 1.000 voluntários. Imagens de televisão mostraram equipes de emergência carregando moradores por ruas alagadas ou em botes infláveis, vastos estacionamentos completamente submersos na água, enquanto torrentes de água corriam pelos pórticos de Bolonha, reconhecidos pela UNESCO.

Um vídeo feito pela guarda costeira da Itália mostrou equipes de resgate em um helicóptero puxando dois idosos do telhado de uma casa onde o nível da água quase cobria as janelas do primeiro andar. Uma das regiões mais ricas da Itália, a Emilia Romagna já havia sido atingida por fortes chuvas há duas semanas, causando enchentes que deixaram dois mortos.

Desta vez, cerca de 500 mm de chuva caíram em 36 horas em Forli, Cesena e Ravenna, cerca de metade da precipitação anual normal, uma situação “com poucos precedentes”, disse o ministro da Proteção Civil, Nello Musumeci. “Ainda é uma situação muito crítica”, disse Musumeci a repórteres.

Em outro lugar, os moradores de Cesena nadaram por uma estrada para resgatar uma criança de três anos e um homem foi visto atravessando a água com seu gato. “Não devemos absolutamente baixar a guarda”, disse o prefeito de Cesena, Enzo Lattuca, no Facebook. Os residentes “não devem, sob hipótese alguma, entrar em porões ou porões” e devem “ficar fora dos andares térreos, se possível”, disse ele.

O que causou a chuva

Períodos de chuvas intensas na Itália e arredores podem ser atribuídos em grande parte a uma profunda área de baixa pressão sobre o Mar Mediterrâneo. Com pouco movimento nos últimos dias, o sistema gerou chuva persistente em partes da Itália, no Mar Adriático e nos Bálcãs. A Croácia também sofreu com chuva em volumes excessivos.

As fortes chuvas seguem uma seca que afetou grande parte do norte da Itália no inverno passado e uma falta recorde de chuvas no verão passado. Há duas semanas começou a chover muito e entre ontem e hoje os acumulados foram extremos com o ciclone do Mediterrâneo sobre a Itália. Algumas áreas da Itália devem ter o maio mais chuvoso em 70 anos, antecipam meteorologistas locais.

“Temos que nos acostumar com isso no futuro, porque infelizmente nos últimos anos muitas vezes acontecem essas chuvas extremas”, disse à AFP o meteorologista da Força Aérea Paolo Capizzi. Ele disse que não pode ser atribuído diretamente ao aquecimento global, mas a “frequência cada vez maior desses fenômenos pode obviamente ser a consequência da mudança climática em curso”.

Chuva extrema cancelou GP de Fórmula 1

O Grande Prêmio da Emilia-Romagna, sexta etapa do Mundial de Fórmula 1, que deveria ser disputado no próximo fim de semana no circuito de Imola, foi cancelado após as inundações que deixaram pelo menos oito mortos nesta região da Itália, anunciaram os organizadores nesta quarta-feira.

“Depois das conversas entre a Formula One, o presidente da Federação Internacional de Automobilismo, as autoridades competentes, incluindo os ministros envolvidos, o presidente do Automóvel Clube Italiano, o presidente da região da Emilia-Romagna, o prefeito da cidade e o promotor do evento, nós tomamos a decisão de que o Grande Prêmio não acontecerá em Imola”, anunciou a empresa responsável pela gestão da F1, Formula One, em um comunicado, sem informar se a prova será reprogramada para outra data até o fim da temporada.

“A decisão foi tomada porque não era possível organizar o evento com toda a segurança para os nossos fãs, nossas equipes e nossos funcionários. É uma decisão responsável devido à situação nas cidades da região. Não seria justo aumentar a pressão sobre as autoridades locais e os serviços de emergência em um período difícil”, acrescenta a nota.

O italiano Stefano Domenicali, diretor-geral da Formula One, definiu como “uma tragédia o que acontece em Imola, na Emilia-Romagna, a cidade e a região onde cresci”. A região é afetada por tempestades desde o início da semana. As inundações provocaram oito mortes e deixaram milhares de desabrigados, anunciaram as autoridades.

Embora o asfalto em si do Autódromo Enzo e Dino Ferrari não esteja alagado, a área do circuito está inundada em vários pontos. As atividades no ‘paddock’ foram suspensas na terça-feira e os funcionários receberam a recomendação de deixar o local por precaução diante do aumento do nível da água.

Nesta quarta, os organizadores pediram em um primeiro momento que equipes e jornalistas não fossem ao circuito, antes de finalmente cancelarem a corrida. As escuderias aceitaram e elogiaram a decisão, como foi o caso da Ferrari. “Embora seja nossa corrida em casa e, por isso, uma corrida muito importante para nós, a prioridade neste momento deve ser a saúde dos que vivem e trabalham na região”, escreveu a equipe italiana em comunicado.

“Pensamos nas vítimas, em suas famílias e em todos os afetados por estas inundações”, acrescentou a Mercedes, do heptacampeão mundial Lewis Hamilton. O holandês Max Verstappen, atual bicampeão mundial, lidera a temporada de F1 com 14 pontos de vantagem sobre seu companheiro de Red Bull, o mexicano Sergio Pérez.

O GP da Emilia-Romagna representaria o retorno da Fórmula 1 ao continente europeu e o primeiro ‘triple header’ (três GPs em três semanas) da temporada, antes das provas de Mônaco (28 de maio) e da Espanha (4 de junho). (Com informações da AFP)