As chuvas intensas com enchente que atingem a região Norte da província de Buenos Aires desde sexta-feira causaram inundações históricas e forçaram a retirada de milhares de moradores de suas em diversas localidades afetadas da província mais populosa da Argentina. O episódio é um dos mais graves eventos de chuva excepcional na história recente da Argentina com acumulados acima de 400 mm em algumas cidades.

Foto aérea mostra a cidade de Zárate inundada | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL
Zárate, Campana, Salto e Rojas estão entre os municípios mais atingidos pelo temporal. Segundo autoridades locais, já são mais de 7 mil pessoas fora de casa, sendo parte acolhida em abrigos emergenciais.
O governo da província de Buenos Aires confirmou que 3166 pessoas estão em centros de evacuação e outras 4460 foram resgatadas por equipes de emergência ou saíram voluntariamente para áreas seguras.
Há ainda três desaparecidos no município de Rojas. Segundo relatos, trata-se de três pessoas que tentaram atravessar um arroio e foram levados pela correnteza. Buscas continuam durante este domingo.
O caso de um homem de 71 anos que viajava de carro entre San Antonio de Areco e Baradero também preocupa. Ele está desaparecido, mas ainda não há denúncia oficial registrada.
Campana foi identificada como a cidade com maior número de pessoas fora de casa: cerca de 1600. Diversos bairros estão completamente submersos, com água entrando nas residências de forma acelerada.
Em Campana, a empresa Tenaris disponibilizou o Hotel Siderca para acolher 90 desalojados. O CEO da companhia, Paolo Rocca, esteve no local acompanhando os esforços de assistência às famílias atingidas.
Zárate apresenta situação levemente mais estável. De acordo com a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, algumas famílias já retornaram para casa, embora a região continue em estado de alerta.
Mais de 410 milímetros de chuva caíram em algumas cidades. Em Salto, o rio que leva o nome da cidade atingiu um recorde de 10,30 metros, conforme informou o prefeito Ricardo Alessandro.
Em Buenos Aires, a chuva também provocou alagamentos. A cidade registrou 190 milímetros em 30 horas, o dobro da média de maio, que normalmente é de 93,5 milímetros ao longo do mês.
Bairros como Liniers, Mataderos, Villa Devoto, Santa Rita, Balvanera e Retiro foram os mais afetados. Ainda assim, o prefeito Jorge Macri afirmou que o sistema de drenagem respondeu de forma eficiente.
A capital federal enviou ajuda a municípios como Campana e Zárate, que solicitaram apoio diante da gravidade da situação. Equipes trabalham com resgate, abrigamento e distribuição de mantimentos.
Entre as estradas interrompidas estão as rodovias 6, 8, 9 e 12. O acesso a Zárate pela Rota 6 segue bloqueado, assim como a travessia do ponte Zárate-Brazo Largo, fechada pela Gendarmería Nacional.

Imagem aérea mostra rodovia inundada em Campana | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL

Veículos ficaram presos na inundação | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL
Foram mobilizadas forças de segurança, equipes de resgate, botes, helicópteros, caminhões e balsas para enfrentar os efeitos do evento extremo de chuva. A base de operações está instalada em La Matanza.
O ministro de Defesa, Luis Petri, e a ministra Bullrich visitaram as áreas atingidas. Petri afirmou que o presidente Javier Milei acompanha os desdobramentos e autorizou o uso de todos os recursos necessários das Forças Armadas e de segurança para proteger a população e apoiar a logística nas regiões mais afetadas pelas inundações.
“A situação é crítica. O presidente nos deu carta branca para agir com rapidez e intensidade. A prioridade é salvar vidas e restaurar a conectividade das comunidades isoladas”, afirmou Petri.
Além dos municípios diretamente impactados, há preocupação com o transbordamento de rios que seguem subindo, como o Paraná e o Arrecifes, o que pode levar a novos alagamentos nas próximas horas.
O governo da província declarou estado de emergência hídrica em várias localidades. A medida permite acelerar repasses, aquisição de insumos e mobilização de estruturas temporárias de apoio.
Organizações da sociedade civil e voluntários têm atuado com força na ajuda humanitária, arrecadando alimentos, roupas, colchões, água potável e materiais de limpeza para os desabrigados.
A Cruz Vermelha Argentina instalou postos de atendimento nas áreas mais vulneráveis e reforçou o chamado por doações. A prioridade são kits de higiene, fraldas, leite em pó e medicamentos básicos.

Diversas áreas estão isoladas pela enchente na Argentina | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL

Pessoas buscaram refúgio em telhados em Campana pela enchente na Argentina | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL

Milhares de pessoas estão fora de suas casas pela grave enchente na província de Buenos Aires | CATRIEL GALLUCCI BORDONI/NURPHOTO/AFP/METSUL
Especialistas alertam que o solo encharcado e a persistência das chuvas elevam o risco de deslizamentos, especialmente em zonas periféricas ou com encostas fragilizadas por construções precárias.
As aulas foram suspensas em dezenas de municípios, e autoridades pedem que a população evite deslocamentos desnecessários. O tráfego urbano e intermunicipal segue prejudicado por bloqueios e lama.
Em paralelo ao drama humano, há prejuízos econômicos expressivos. A região é um polo agroindustrial, e plantações de milho e soja foram severamente afetadas, com perdas ainda sendo contabilizadas.
Cidades como Salto e Rojas têm setores industriais e comerciais inteiramente paralisados. Pequenas e médias empresas relatam danos irreversíveis em galpões, estoques e equipamentos.
“É devastador. A água levou tudo. Só restou o barro”, relatou Laura Pérez, comerciante de Salto, enquanto mostrava os estragos em sua loja de móveis, agora completamente alagada e inutilizada.
O governador Axel Kicillof sobrevoou as áreas inundadas e prometeu ampliar os recursos emergenciais. Ele também criticou a ausência de políticas nacionais de prevenção a desastres.
“O impacto climático exige planejamento e investimentos contínuos. Estamos enfrentando o que deveria ser exceção como se fosse regra. Isso precisa mudar”, afirmou o governador em entrevista.

Animais são resgatados nas áreas atingidas pela enchente na Argentina | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL
O drama nas cidades afetadas gera uma onda de solidariedade em todo o país. Campanhas de arrecadação se multiplicam nas redes sociais, com pontos de coleta organizados em diversos bairros da capital.
O Ministério do Interior argentino informou que um plano de assistência coordenado será implementado nos próximos dias, com foco em recuperação estrutural, reconstrução de moradias e apoio às famílias.
Enquanto isso, nas ruas alagadas de Zárate, Campana e Rojas, a população segue enfrentando a incerteza com resiliência, solidariedade e esperança de que a água finalmente comece a baixar.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.