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O Oceano Pacífico segue em neutralidade, ou seja, sem condições de El Niño ou La Niña, mas está esfriando na parte Centro-Leste e modelos indicam a possibilidade de durante a primavera se estabelecerem condições de La Niña.

Modelos indicam condições de La Niña na primavera no Pacífico | NOAA

Conforme o mais recente boletim da NOAA, a agência de clima dos Estados Unidos, e que foi divulgado ontem, o Pacífico Equatorial Centro-Leste (região Niño 3.4) nos últimos dias apresentava quadro de resfriamento enquanto o Pacifico Leste (Niño 1+2) também esfriou.

Atualmente, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste – região do oceano usada oficialmente para designar se há El Niño ou La Niña conhecida como Niño 3.4 – está em -0,4ºC, ou seja, na faixa de neutralidade (-0,4ºC a 0,4ºC).

Este valor semanal de -0,4ºC, informado ontem, é a anomalia de temperatura do mar mais fria nesta parte do Pacífico desde o boletim semanal de 5 de fevereiro.

Já perto da costa da América do Sul, as águas superficiais no Pacífico Equatorial junto aos litorais do Peru e do Equador, região que é denominada de Niño 1+2, estão mais quentes do que a média com anomalia de -0,1ºC.

A última vez em que o Oceano Pacifico Equatorial Central não apresentou uma anomalia semanal em neutralidade foi na primeira semana de fevereiro, no final do episódio de La Niña de 2024-2025.

Assim, o Pacífico completa já vários meses com as anomalias de temperatura do mar em sua região principal de monitoramento em condições neutras, logo sem o El Niño e a La Niña.

Pacífico em neutralidade não significa normalidade no clima

A neutralidade atualmente observada é frequentemente confundida com normalidade, mesmo por profissionais da Meteorologia, mas pode trazer tanto extremos de El Niño como de La Niña. Assim, tanto na precipitação como na temperatura os sinais podem ser mistos.

Maio foi um exemplo disso. Volumes excessivos de chuva trouxeram em maio quase 500 mm de chuva no Noroeste da província de Buenos Aires com graves inundações. No Rio Grande do Sul, muitas cidades terminaram maio com chuva entre 300 mm e 500 mm, o que trouxe cheias de rios e enchentes, sobretudo no Oeste.

Os extremos se repetiram em junho. Chuva no mês de até 500 mm em algumas regiões trouxeram enchentes. O Rio Jacuí em Cachoeira do Sul igualou a cota de enchente de 1941 (ano de Super El Niño). Agora em agosto, episódio de chuva extrema trouxe inundações no Sul gaúcho.

Além disso, este é um inverno mais frio do que a média, um dos mais frios neste século até agora mais ao Sul do Brasil, com padrão meteorológico que não está perto das normais climatológicas de temperatura.

La Niña na primavera?

A tendência, de acordo com a análise da MetSul a partir de modelos de clima e outras ferramentas, indica a continuidade da condição de neutralidade no curto prazo, mas durante a primavera podem se estabelecer anomalias de temperatura do mar de La Niña.

NOAA

Conforme a mais recente atualização mensal da NOAA, publicada semana passada, existe uma alta probabilidade (acima de 50%) de que as condições durante a primavera no Pacifico atinjam patamar de La Niña.

Ocorre que, na sequência, durante o verão, segundo a projeção da NOAA, o cenário mais provável é um quadro de neutralidade, não persistindo o resfriamento no Pacifico Equatorial Central.

Sob este cenário de probabilidade apresentado pela NOAA, o Pacífico pode apresentar anomalias de temperatura da superfície do mar típicas de La Niña durante a primavera e se estas condições persistirem no verão está caracterizado um evento de La Niña.

O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil

O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase fria esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.

Infográfico de La Niña e El Niño

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

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