O outono de 2025, que começa às 6h01 desta quinta-feira (20) no Hemisfério Sul, com o equinócio, caracteriza-se como uma estação de transição do calor do verão para o frio do inverno. A mudança de estação traz mais dias de temperatura agradável, mas não significa que o calor fica para trás.
A estação começa em 2025 com o Oceano Pacífico sob neutralidade (sem El Niño ou La Niña), depois de condições de La Niña terem sido observadas entre dezembro e meados de fevereiro.
Na semana em que se inicia o outono, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste – região do oceano usada para designar se há El Niño ou La Niña – está em 0,3ºC, ou seja, na faixa de neutralidade (-0,4ºC a 1,4ºC).
A tendência para o outono é que as condições permaneçam neutras, embora em parte da estação com anomalias positivas de temperatura da superfície do mar sem que seja caracterizado um evento clássico de El Niño.
Neutralidade é frequentemente confundida com normalidade, mas pode trazer tanto extremos de El Niño como de La Niña. Assim, tanto na precipitação como na temperatura os sinais podem ser mistos no decorrer da estação.
Embora oficialmente o quadro seja de neutralidade, perto da costa da América do Sul, as águas superficiais no Pacífico Equatorial junto aos litorais do Peru e do Equador, região que é denominada de Niño 1+2, estão mais quentes do que a média. É o chamado El Niño costeiro, que não deve ser confundido com a forma clássica do El Niño.
Quando esta parte do oceano mais próxima do Peru e do Equador aquece, como neste começo de outono, há uma tendência de menor probabilidade de ingressos de massas de ar frio no Sul do Brasil.
Outono de 2025 é diferente de 2024
A chegada do outono traz automaticamente a memória de 2024, quando na estação o Rio Grande do Sul enfrentou o maior desastre da sua história com cheias jamais vistas do Guaíba e de vários rios que trouxeram uma catástrofe pela enchente.
O outono de 2025, entretanto, não é uma repetição de 2024. Os dados analisados mostram um padrão atmosférico regional e global de circulação da atmosfera é muito distinto do ano passado.
Em 20 de março do ano passado, o Pacífico Equatorial estava com anomalia de 1,3ºC no começo da estação, com um El Niño moderado a forte. O Pacífico começava a transição de El Niño para neutralidade mais tarde na estação.
Hoje, a transição é de La Niña para neutralidade. Não há El Niño canônico (clássico) e a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste está em 0,3ºC.
Além disso, no começo do outono de 2024 o Atlântico Tropical tanto Sul como Norte estava com anomalias de temperatura recordes, o que teve forte influência para as enchentes, o que não se repete em 2025.
Chuva no outono
O outono marca uma mudança no regime de chuva no Centro-Sul do Brasil. Enquanto no verão as precipitações se originam mais de nuvens carregadas que se formam pelo calor e a umidade alta, ou seja, por convecção, a partir do outono a chuva passa a ter como causa principal a passagem de frentes frias e centros de baixa pressão.
Mais ao Sul do Brasil não há uma estação seca e outra chuvosa, como ocorre no Centro do país. Porto Alegre, por exemplo, tem média de precipitação de 120,7 mm em janeiro, no auge do verão, e de 112,8 mm, último mês do chamado outono meteorológico (março a maio).
A cidade de São Paulo, que possui estações seca (inverno) e chuvosa (verão) tem média de precipitação mensal de 292,1 mm em janeiro e 66,3 mm em maio. Com isso, à medida que o outono avança, a tendência é de diminuição da chuva no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil.
Em junho, não raro, se produz na Região Sul, em particular no Rio Grande do Sul e no Leste de Santa Catarina, a atuação de frentes quentes, tipo de sistema meteorológico muito menos comum que as frentes frias e que são mais frequentes nos meses frios do ano.
Quando estas frentes quentes se formam sobre o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina costumam trazer altos volumes de chuva e ainda temporais com muitos raios e, principalmente, granizo.
O outono é a estação com menor frequência de temporais no Centro-Sul do Brasil, mas tempo severo ocorre em qualquer época do ano. Episódios de fortes temporais com granizo e vendavais durante os meses do outono estão fartamente documentados nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e o Sul, inclusive com episódios de tornados.
Em 2025, a tendência é de um outono com chuva abaixo da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil com precipitações muito abaixo da média em algumas áreas, em especial mais ao Sul do país.
Os mapas abaixo mostram as projeções de anomalia (desvio da média) de chuva do trimestre de abril a junho do modelo SEAS5 do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF) e do NMME, que reúne modelos norte-americanos e canadenses. Os mapas não necessariamente representam a previsão da MetSul Meteorologia.

METSUL

METSUL
O cenário, assim, não é favorável à agricultura. Não se espera no Rio Grande do Sul uma normalização tão cedo do grande déficit de precipitação acumulado ao longo do verão e que levou mais de 200 municípios à decretação de emergência. Há preocupação ainda com o milho safrinha porque a escassez de chuva pode levar a perdas.
Em pontos mais próximos da costa, entre Santa Catarina e o Rio de Janeiro, entretanto, a chuva pode ficar perto e acima da média em parte da estação. Áreas do Rio de Janeiro, Espírito Santo e parte de Minas Gerais, sobretudo o Sul, podem ter chuva perto ou acima da média na estação.
São Paulo e Mato Grosso do Sul têm uma tendência de chuva mista para o outono com precipitação abaixo e acima da média, conforme a localidade, tal a variabilidade grande de volumes que se projeta entre um município e outro no decorrer da estação. Já no Mato Grosso, a chuva deve ficar abaixo da média na maioria das localidades.
Apesar da tendência geral de chuva abaixo da média em muitas áreas do Centro-Sul do Brasil, há o risco de episódios pontuais de precipitação muito intensa, com elevados volumes, capazes de gerar transtornos, especialmente na atuação de frentes frias e quentes assim como em centros de baixa pressão.
Temperatura no outono
O clima no começo do outono tem condições ainda típicas de verão enquanto o final da estação já está compreendido no período mais frio do ano. A chegada do outono não significa, contudo, que o calor fica para trás.
Dias quentes são normais ainda em abril e maio. Mesmo em junho podem ocorrer alguns dias quentes. Quando há período quente mais prolongado em maio após dias frios há a ocorrência do chamado veranico de maio, mas ele não ocorre todos os anos.
A partir de todos os dados de modelos e outros de analogia histórica e teleconexões climáticas, a MetSul espera um outono com predomínio de dias de temperatura acima da média na maioria dos estados do Centro-Sul do Brasil e vários com calor. A temperatura deve ficar muito acima da média em algumas áreas, principalmente em parte do Centro do país.
No Sul do Brasil, o outono tem uma maior probabilidade de temperatura acima da média no Paraná e com possibilidade de desvios positivos de temperatura mais significativos no Noroeste e no Norte do estado. Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem ter maior variabilidade na temperatura com marcas perto e acima da média.
Os mapas a seguir mostram as projeções de anomalia (desvio da média) de temperatura para abril a junho do modelo SEAS5 do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF) e do NMME. Os mapas não necessariamente representam o prognóstico climático da MetSul que leva em conta outros modelos e análises de clima.

METSUL

METSUL
Um outono frio, assim, é extremamente improvável no Sul do Brasil. Isso, contudo, não significa que vai deixar de fazer frio. Muito pelo contrário. Eventos de frio devem ser dar no decorrer da estação, porém devem ser pontuais. A tendência, assim, é que não ocorra frio persistente e muito prolongado, mas episódico. Tampouco se espera uma estação com muitos dias de geada.
O outono, em regra, por padrões históricos, possui três períodos bem marcantes e distintos em suas características térmicas. No primeiro, até o fim da primeira quinzena de abril, costumam prevalecer as marcas mais elevadas nos termômetros com períodos esporádicos de calor mais forte.
Na segunda metade de abril se dá o segundo, quando a frequência de dias amenos ou frios aumenta e já podem ocorrer, dependendo do ano, até algumas noites com geada. Este período perdura até a metade de maio, quando tem início o terceiro com características climáticas já próximas daquelas observadas no inverno. O Oeste e o Sul do Rio Grande do Sul, em especial, têm maior propensão a sofrer influência de massas de ar frio durante a estação.
Um dado climático relevante é que muitas vezes no passado os dias mais frios do ano não se deram no inverno astronômico e sim ainda no outono astronômico, ao redor da segunda semana de junho. Em muitos anos, a semana do Dia dos Namorados (12 de junho) foi a mais gelada do inverno meteorológico (junho a agosto), embora pelo critério astronômico ainda seja outono.
Estação do nevoeiro e da neblina
Outra marca do outono, como estação de transição climática, é a grande diferença de temperatura da noite para o dia. Trata-se de um dos períodos do ano com maior amplitude térmica e que também proporciona um aumento nos dias de nevoeiro.
Em Porto Alegre, de acordo com estudo das condições observadas no Aeroporto Salgado Filho, os três meses com maior número de dias de nevoeiro são maio, junho e julho, ou seja, dois meses do outono astronômico (março a junho) e um do outono meteorológico (março a maio). Maio e junho são os líderes do ranking da climatologia histórica de nevoeiro na capital gaúcha.
Com frequência, sob condições de céu limpo e ar seco, a temperatura pode variar até 20ºC ou mais no mesmo dia, o que força o uso de roupas mais pesadas no começo da manhã e vestuário mais leve no período da tarde, o chamado “efeito cebola”.
Comum no outono é a ocorrência de bruscas mudanças de temperatura. Muitas vezes na estação frentes frias avançam e as marcas nos termômetros que podem estar acima de 30ºC imediatamente antes da chegada da frente podem cair para valores abaixo de 10ºC em poucas horas.
Estação tem aumento de ciclones
As bruscas mudanças do tempo e da temperatura no outono não raramente são acompanhadas de vento forte do quadrante Oeste, do tipo Minuano, quando da presença de um ciclone mais intenso no Atlântico.
O vento forte costuma vir com ciclones extratropicais (sistemas de baixa pressão), fenômeno que se torna mais frequente justamente a partir do outono e que impulsiona o ar polar para o Sul do Brasil. As rajadas quando há ciclones costumam variar, em média, entre 50 e 100 km/h, dependendo do posicionamento do sistema de baixa pressão.
Em alguns casos mais extremos, as rajadas ultrapassam 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho com fortes ressacas do mar na costa, danos e falta de energia. Horas antes da mudança do tempo, atuam outro fenômeno que se chama correntes de jato de baixos níveis que costumam trazer vento Norte forte seco e quente com alta temperatura, especialmente na região de Santa Maria no caso do Rio Grande do Sul, em cidades da costa a Leste da Serra do Mar nos litorais do Sul e do Sudeste.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.