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Dois ciclones se destacam nas imagens de satélite do hemisfério nesta quarta-feira (20). Um é tropical e o outro extratropical. Um atua no Atlântico Norte e o outro no Atlântico Sul. Qual é o maior e qual é o mais intenso.

Imagem do satélite GOES-19 do hemisfério nesta tarde mostra o furacão Erin (box vermelho) e o ciclone extratropical (box azul) | NOAA/NASA

O ciclone tropical Erin, um furacão, atua neste momento junto à costa Leste dos Estados Unidos. Já o ciclone extratropical (sem nome porque ciclones extratropicais não são batizados na América do Sul) tem seu centro na altura do Rio da Prata.

O furacão Erin estava localizado às 12h (horário de Brasília) desta quarta-feira (20) próximo da latitude 30,1°N e longitude 73,7°O, no Atlântico Oeste. O sistema se desloca para o Norte a 20 km/h, devendo mudar de trajetória para norte-nordeste ainda hoje e, entre quinta e sexta-feira, acelerar em direção ao nordeste e leste-nordeste.

Nesse percurso, o centro do ciclone passará entre a Costa Leste dos Estados Unidos e Bermudas até o início de sexta e, depois, seguirá ao sul do Canadá Atlântico entre sexta e sábado.

Os ventos sustentados atingem 175 km/h, com rajadas mais intensas, e o ciclone pode voltar à categoria de grande furacão ainda hoje. O enfraquecimento é esperado a partir de sexta-feira, mas Erin deve permanecer como furacão no fim de semana.

O sistema é extenso, com ventos de força de furacão se estendendo até 150 km do centro e ventos de tempestade tropical alcançando 425 km. A pressão mínima central foi estimada em 941 hPa pelas medições dos Caçadores de Furacões da Força Aérea dos Estados Unidos.

Já o ciclone extratropical (sem nome) está na foz do Rio da Prata, movendo -se para Leste-Sudeste com tendência de afastamento do continente amanhã. O seu campo de vento se estende por centenas de quilômetros com rajadas no Centro da Argentina, no Uruguai, Sul do Brasil e área oceânica.

Qual é o maior? Qual mais intenso?

O furacão Erin tem dimensão na imagem de satélite muito menor que a do ciclone extratropical que está trazendo vento hoje no Rio Grande do Sul. Mesmo assim é um sistema muito mais intenso e que somente não está provocando estragos porque se encontra em mar aberto e não vai tocar terra nos Estados Unidos.

A comparação é uma evidência que em se tratando de ciclone, tamanho não é documento. Dimensão da espiral de nuvens não se traduz em intensidade. Mesmo centros de baixa pressão medíocres podem produzir belas imagens de satélite.

Os ciclones extratropicais costumam ter uma dimensão da espiral maior ou até muito maior que a dos furacões, até porque o campo de vento dos sistemas extratropicais é mais amplo que dos sistemas tropicais.

Furacão Erin hoje na costa Leste dos Estados Unidos | NOAA

Ciclone extratropical hoje entre Argentina, Uruguai e Sul do Brasil | CIRA/CSU

Um exemplo clássico de que o tamanho não significa intensidade é o furacão Catarina de março de 2004. Não foi um ciclone tropical de grandes dimensões geográficas. Os danos se concentraram essencialmente por onde passou a parede do olho, na parte mais ao Norte do Litoral gaúcho e no Sul de Santa Catarina, além de pontos da Serra por onde o sistema avançou ao adentrar terra e rapidamente perder intensidade e se dissipar com a perda de alimentação do oceano e o atrito com as grandes elevações do Nordeste gaúcho e do Planalto Sul Catarinense.

Ciclones extratropicais costumam ter dimensões muito maiores e possuem um campo de vento que alcança áreas muito superiores a de um ciclone tropical. Já se viu ciclones intensos com ciclogênese explosiva na altura das ilhas Malvinas, ou seja, a milhares de quilômetros, causando vento forte no ingresso de potentes massas de ar polar.

O que diferencia um ciclone extratropical de um furacão?

O furacão é um ciclone tropical, uma baixa pressão com centro quente, formado sobre águas quentes dos oceanos, geralmente acima de 26°C. Sua principal fonte de energia vem da evaporação da água do mar e da condensação da umidade na atmosfera, o que alimenta nuvens profundas e tempestades organizadas em espiral.

O sistema apresenta um centro bem definido, o chamado olho, cercado por uma parede de nuvens com ventos extremamente fortes. Esse tipo de ciclone costuma ocorrer em regiões tropicais e subtropicais e, em condições favoráveis, pode atingir categorias de grande intensidade na escala Saffir-Simpson.

Já o ciclone extratropical, uma baixa pressão de centro frio, forma-se em latitudes médias, geralmente associado ao encontro de massas de ar com características diferentes — uma quente e úmida, outra fria e seca. A energia que movimenta esse sistema vem justamente do contraste térmico entre as massas de ar, e não do calor do oceano.

Normalmente, ciclones extratropicais não apresentam olho definido e é caracterizado por frentes frias e quentes, que trazem ampla área de instabilidade, ventos fortes e chuva por vezes intensa. Embora menos simétrico que um furacão, o ciclone extratropical pode ser igualmente perigoso e  produzir ventos tão intensos quanto um furacão.

A principal diferença, portanto, está no mecanismo de formação e manutenção. O furacão depende de águas quentes e desaparece quando se desloca sobre regiões frias ou sobre o continente, já o ciclone extratropical pode se manter e até ganhar força em áreas oceânicas frias, onde os contrastes de temperatura são intensos. Ambos, no entanto, têm potencial de gerar ventos destrutivos, tempestades severas e grandes impactos nas áreas afetadas, ainda que suas origens e estruturas sejam distintas.

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