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O Telescópio Espacial James Webb trouxe novas pistas sobre o cometa interestelar 3I/ATLAS, o terceiro objeto desse tipo já detectado atravessando o nosso Sistema Solar. A análise revelou que sua coma — a nuvem de gás e poeira em torno do núcleo — é dominada por dióxido de carbono, em uma proporção inédita em relação à água.

NASA

Segundo os dados obtidos pelo instrumento NIRSpec do Webb, a relação entre dióxido de carbono e água é de oito para um, a mais alta já observada em qualquer cometa. Esse valor é 16 vezes superior ao esperado para um objeto localizado a essa distância do Sol, o que deixou os cientistas intrigados.

Cometas do nosso Sistema Solar geralmente apresentam maior abundância de água em relação ao dióxido de carbono. O caso de 3I/ATLAS sugere que sua origem e história são diferentes, o que pode trazer informações valiosas sobre a diversidade de ambientes em outros sistemas planetários.

Os pesquisadores levantam algumas hipóteses para explicar a composição incomum. Uma possibilidade é que o cometa tenha se formado perto da chamada “linha de gelo” do dióxido de carbono no disco de gás e poeira de sua estrela de origem. Outra é que tenha passado por altos níveis de radiação, alterando a proporção dos elementos em seus gelos.

Descoberto em 1º de julho pelo sistema ATLAS, no Chile, 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar identificado. Antes dele, foram documentados ‘Oumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. Ao contrário dos cometas típicos, esses visitantes não pertencem ao nosso Sistema Solar e viajam pelo espaço interestelar antes de cruzar a órbita do Sol.

As imagens do telescópio Gemini North, no Havaí, já mostraram uma coma compacta em torno do núcleo de gelo. Agora, com a sensibilidade do Webb, os cientistas podem observar detalhes químicos nunca acessíveis em descobertas anteriores.

Novos instrumentos devem reforçar as investigações, como o Observatório Vera C. Rubin, no Chile, que começa a operar em breve. A expectativa é que mais observações confirmem se 3I/ATLAS é realmente um “estranho” ou se representa uma classe ainda pouco conhecida de cometas interestelares.

A NASA garante que o cometa não oferece risco à Terra. Ele poderá ser acompanhado por telescópios terrestres até setembro, desaparecendo depois atrás do Sol, para só voltar a ser observado em dezembro.

Um visitante de passagem

O cometa segue uma órbita hiperbólica, o que significa que ele não está preso gravitacionalmente ao Sol. Traçando seu caminho no passado, os astrônomos determinaram que o 3I/ATLAS veio do espaço interestelar e que, após cruzar o Sistema Solar, continuará sua trajetória rumo ao espaço profundo, sem retornar.

No momento, o 3I/ATLAS está a cerca de 670 milhões de quilômetros do Sol. Sua maior aproximação ocorrerá em 30 de outubro de 2025, quando passará próximo à órbita de Marte, a aproximadamente 1,4 unidade astronômica (210 milhões de quilômetros) de distância do Sol. Não há risco de colisão com a Terra.

Um cometa raro

As observações indicam que o 3I/ATLAS é um cometa ativo, com núcleo gelado e envolto por uma coma — a nuvem brilhante de gás e poeira característica desse tipo de objeto. Por conta disto, o objeto também recebeu uma denominação de cometa: C/2025 N1.

Imagens obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA em 21 de julho de 2025 mostram detalhes que permitem estimar o tamanho do núcleo. Estimar o tamanho de um cometa ativo é difícil, pois a presença da coma de poeira impede a observação direta do núcleo, mas a partir destas imagens é possível estimar que o objeto pode ter diâmetros entre 320 metros e 5,6 quilômetros.

À medida que se aproxima do Sol, é esperado que o cometa  3I/ATLAS fique cada vez mais ativo, uma vez que a atividade de cometas está ligada à sublimação de voláteis que existem em seu interior, que por sua vez é causada pelo aumento na temperatura superficial  devida ao aumento no fluxo solar sobre o objeto, que fica mais intenso conforme ele chega mais perto do Sol.

O cometa poderá ser observado por telescópios terrestres até setembro de 2025, quando ficará próximo demais do Sol. Ele voltará a ser visível no início de dezembro de 2025, possibilitando novas análises.

Mensageiro de outros mundos

Objetos como o 3I/ATLAS são fragmentos remanescentes de outros sistemas planetários, formados a partir de materiais que não compartilham a mesma origem do nosso Sistema Solar. Seu estudo pode fornecer pistas valiosas sobre a formação de mundos distantes. Trata-se  de um “cometa mensageiros de outros mundos”, descreveu o Observatório Nacional.

Conforme destacou o astrônomo do Observatório Nacional, Dr. Jorge Márcio Ferreira Carvano, este é apenas o terceiro objeto interestelar já observado, e a descoberta desta nova categoria de objeto é consequência do aumento no número de campanhas dedicadas ao mapeamento do céu e à melhoria das técnicas de análise de dados.

“Ainda são muito poucos objetos, mas cada um é único e, à medida que mais objetos são descobertos, eles podem permitir entender um pouco melhor o processo de formação de outros sistemas planetários”, completou.

Sobre a diferença entre um cometa interestelar e um cometa comum do nosso Sistema Solar, Carvano pontuou que a composição dos corpos que se formam em torno de cada estrela reflete em boa parte a composição da nuvem proto-estelar a partir da qual essa estrela se formou. 1I/’Oumuamua não foi observado com atividade cometária. O único outro cometa interestelar observado, 2/I Borisov, era consideravelmente mais rico em monóxido de carbono que os cometas típicos do nosso sistema solar, o que deve ser indicativo da composição do disco proto-planetário onde ele se formou.

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