Internet brasileira foi tomada nos últimos dias por matérias sobre o cometa interestelar 3I/ATLAS com informações equivocadas e outras mesmo falsas que induzem o leitor em erro e fazem o público acreditar numa ameaça que não existe.

REPRODUÇÃO
As matérias publicadas por alguns grandes meios de imprensa brasileiros formam uma coletânea de mentiras e teorias de conspiração. Títulos como “Estranho silêncio da NASA sobre cometa interestelar”, “Astrônomos pedem que nos preparemos para o que acontecerá em 29/10”, “NASA ativa protocolo de defesa planetária para cometa”, e “Cometa 3I/Atlas pode atingir a Terra e devastar a humanidade? NASA emitiu comunicado preocupante” são alguns dos títulos absurdos publicados pela imprensa brasileira nesta semana.
O principal absurdo publicado em vários meios brasileiros foi de que “a NASA está ativando a defesa interplanetária contra o cometa 3I/ATLAS”, afirmação completamente sem sustentação nos fatos e evidente mentira que engana o leitor.
O fato. A NASA não acionou nenhum “protocolo de defesa planetária” em relação ao cometa 3I/ATLAS. A International Asteroid Warning Network (IAWN), rede coordenada sob recomendação da ONU para monitorar objetos próximos da Terra, em que a agência espacial norte-americana colabora, iniciou uma campanha para monitorar o cometa.
Trata-se de campanha de treinamento técnico voltada à melhoria das medições orbitais de cometas, sem relação com qualquer ameaça real. Comunicado da própria IAWAN deixa evidente que não há qualquer risco e que o interesse é apenas científico.
“Embora não represente nenhuma ameaça, o cometa 3I/ATLAS apresenta uma grande oportunidade para a comunidade IAWN realizar um exercício de observação devido à sua observabilidade prolongada da Terra e ao alto interesse da comunidade científica. Esta campanha 3I/Atlas é o 8º exercício de observação da IAWN desde 2017 – a IAWN realiza esses exercícios aproximadamente uma vez por ano. A IAWN estava planejando fazer uma campanha de cometas no outono de 2025 desde 2024 para exercitar as capacidades de medição da posição dos cometas, que apresentam desafios astrométricos adicionais, pois aparecem como objetos difusos e estendidos em comparação com asteroides pontuais no campo de visão de um telescópio”.
A IAWN é uma colaboração mundial de defesa planetária que reúne organizações e astrônomos individuais, recomendada por uma resolução das Nações Unidas (especificamente pelo Grupo de Trabalho sobre Objetos Próximos da Terra do Subcomitê Científico e Técnico do Comitê das Nações Unidas para os Usos Pacíficos do Espaço Exterior).
O grupo trabalha coletivamente para detectar, monitorar e caracterizar asteroides e objetos próximos da Terra (NEOs) potencialmente perigosos. Caso uma ameaça de asteroide seja identificada, a IAWN atuaria como um centro centralizado para disseminar informações aos governos, auxiliando na análise das possíveis consequências do impacto e no planejamento de opções de resposta para mitigação.
Ou seja, o workshop da organização tem um objetivo simples e nada ameaçador: coletar dados melhores do cometa, afinal objetos celestes como o 3I/ATLAS são notoriamente difíceis de medir. Suas comas podem mudar as leituras de um telescópio em milhares de quilômetros.
E o cometa pode se chocar com a Terra como absurdamente sugerem algumas matérias? Não, o 3I/ATLAS passará a cerca de 270 milhões de quilômetros do nosso planeta em dezembro, o que é uma distância totalmente segura.
E o tal do silêncio da NASA? Outra bobagem divulgada por vários portais em matérias cujo único objetivo é atrair tráfego. Por meses, a agência espacial dos Estados Unidos vem divulgando informações técnicas sobre o cometa. Nas últimas semanas, por conta do chamado shutdown do governo norte-americano que paralisa por falta de verbas orçamentárias grande parte da estrutura federal dos Estados Unidos, serviços da NASA foram interrompidos.
Descoberto em 1º de julho pelo sistema ATLAS, no Chile, 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar identificado. Antes dele, foram documentados ‘Oumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. Ao contrário dos cometas típicos, esses visitantes não pertencem ao nosso Sistema Solar e viajam pelo espaço interestelar antes de cruzar a órbita do Sol.
O cometa segue uma órbita hiperbólica, o que significa que ele não está preso gravitacionalmente ao Sol. Traçando seu caminho no passado, os astrônomos determinaram que o 3I/ATLAS veio do espaço interestelar e que, após cruzar o Sistema Solar, continuará sua trajetória rumo ao espaço profundo.
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