Esta semana marca uma guinada no regime anual de chuva mais ao Sul do Brasil com o começo da temporada de chuva de verão, em que calor e umidade se combinam com ocorrências de chuva e temporais localizados da tarde para a noite em dias de mais alta temperatura.

Calor no verão forma nuvens carregadas isoladas do tipo Torre Cumulus e Cumulonimbus com chuva forte e temporais em pontos localizados | IARA PUNTEL/ARQUIVO
Mais ao Sul do Brasil, em particular no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o regime de chuva anual costuma ter dois momentos. Nos meses mais frios, a origem da chuva está em sistemas de grande escala. Nos mais quentes, em convecção diurna.
Entre grande parte do outono e novembro, todos os anos, a chuva no Rio Grande do Sul e Santa Catarina tem como causa principal sistemas de grande escala como centros de baixa pressão ou ciclones, frentes frias ou quentes, e ainda pela circulação de umidade de centros de alta pressão no oceano.
No verão, a maioria destas situações de maior escala ainda traz chuva, apesar de maneira menos frequente, mas, por outro lado, soma-se uma outra causa para a precipitação que é convecção ativada pela temperatura mais alta.
Convecção é o processo pelo qual o ar quente sobe na atmosfera. Em dias quentes, o solo aquece intensamente e transfere calor para o ar logo acima, que se torna mais leve e começa a subir.
À medida que esse ar quente sobe, ele se expande e esfria, fazendo com que o vapor d’água nele contido se condense e forme nuvens. Quando a convecção é intensa, o movimento vertical do ar pode gerar nuvens muito altas com chuva forte e temporais.
Por isso, principalmente entre novembro e março, é comum que ocorra chuva isolada da tarde para a noite. Não raro, mais em dias de intenso calor, tais pancadas podem trazer volumes altíssimos de chuva em curto período com alagamentos e inundações repentinas. Há vários precedentes de chover em meia hora ou uma hora o que é comum chover na média da metade de um mês ou até um mês todo.
No Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil, a temporada de chuva convectiva começa mais cedo que no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Já no fim de setembro outubro o aquecimento diurno favorece instabilidade, mas entre novembro e março há o auge da chuva convectiva com o pico em janeiro.
Também nestes dias tórridos, com marcas de 35ºC a 40ºC, cresce o risco de tempestades localizadas intensas com vendaval e granizo. Os temporais às vezes são severos e com danos, podendo desencadear até tornados e microexplosões atmosféricas. Foi o que, por exemplo, ocorreu no temporal arrasador que atingiu Porto Alegre em janeiro de 2016.
Estas pancadas mais intensas e temporais muito isolados e passageiros associados ao calor que ocorrem no período quente do ano são verdadeiro tormento para quem prevê o tempo com dificuldades de prognóstico que não se costuma ter no inverno.
Por quê? É possível prever pancadas e temporais isolados numa determinada região, mas estabelecer exatamente onde ocorrerão com antecedência é muito difícil.
São inúmeros os casos de parte de uma cidade estar com sol e calor na mesma hora que outra parte da mesma localidade, a poucos quilômetros, estar sob chuva e temporal. Ou uma cidade estar com chuva e o município imediatamente ao lado estar com sol.
É o que leva muita gente a questionar nas redes sociais durante o verão onde está a chuva que a Meteorologia indicou para a sua cidade. O público enxerga em aplicativos ícones de sol e chuva, mas a chuva pode não cair no ponto em que a pessoa está e sim em algum local próximo. A previsão, portanto, não está necessariamente errada. Pode ter chovido alguns bairros adiante de onde a pessoa reside.
