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No remake de “Vale Tudo”, a vilã Odete Roitman, vivida por Debora Bloch, morrerá no capítulo desta segunda-feira em uma cena que faz referência à icônica sequência original e homenageia Beatriz Segall, intérprete da personagem em 1988.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Na novela original, a morte de Odete se tornou um dos maiores mistérios da televisão brasileira. Após uma série de suspeitos, a revelação aconteceu apenas no último capítulo.

O país inteiro em 1988 se perguntava “Quem matou Odete Roitman?”. O sucesso da trama foi tão grande que o desfecho precisou ser alterado na época, pois a imprensa havia descoberto que o assassino originalmente seria Marco Aurélio.

Agora, novamente, o Brasil se defrontará com a pergunta de décadas atrás: quem matou a impiedosa empresária Odete Roitman?

Se a crueldade e perversidade da vilã de Vale Tudo de 2025 não têm praticamente diferença em relação a 1988, o mundo em que Odete de quase 40 anos atrás era diferente no clima de hoje.

O ano de 1988 marcou um ponto de inflexão na história do clima global. O enfraquecimento de um intenso episódio de El Niño deu lugar a uma forte La Niña, alterando os padrões atmosféricos em diferentes regiões do planeta.

Mesmo com essa transição, as temperaturas globais continuaram elevadas. Dados da NOAA e do Met Office britânico mostraram que 1988 foi então o ano mais quente desde o início dos registros, reforçando a tendência de aquecimento observada ao longo da década de 1980.

Nos Estados Unidos, o fenômeno ficou conhecido como a “Anomalia Climática de 1988”. Uma seca severa atingiu grande parte do país, provocando prejuízos bilionários e afetando a agricultura em escala nacional. O calor extremo e a falta de chuva criaram as condições para incêndios devastadores, como o de Yellowstone, que destruiu quase 40% do parque nacional.

Enquanto os Estados Unidos enfrentavam um dos verões mais quentes e secos de sua história recente, o tema das mudanças climáticas ganhou projeção internacional. Em junho daquele ano, o cientista James Hansen, da NASA, declarou em audiência no Congresso americano que havia 99% de certeza de que o aquecimento global era real e já perceptível. Sua fala foi um marco: pela primeira vez, a influência humana sobre o clima foi apresentada com tanta clareza diante de parlamentares e da imprensa mundial.

A coincidência entre o calor recorde, a seca e o alerta científico fizeram de 1988 um símbolo da nova era do debate climático. Embora eventos extremos semelhantes já tivessem ocorrido antes, a percepção pública mudou: o aquecimento global passou a ser visto não como hipótese distante, mas como fenômeno em andamento.

Mais do que uma sequência de eventos meteorológicos, 1988 ficou na memória como o ano em que o clima entrou definitivamente na agenda política e científica mundial. A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) pela ONU, no mesmo ano, consolidou essa virada. Desde então, o termo “aquecimento global” tornou-se parte do vocabulário público, e 1988 passou à história como o ano em que o planeta começou a entender, de forma concreta, que seu clima estava mudando.

Um mundo com mais CO2

Em 1988, a concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera era de aproximadamente 351 partes por milhão (ppm), segundo registros de observatórios como o de Mauna Loa, no Havaí. Esse valor refletia o aumento constante iniciado após a Revolução Industrial, mas ainda representava um nível bem inferior ao observado atualmente.

Em 2025, as medições mais recentes indicam que o CO₂ alcançou cerca de 430 ppm, um crescimento de quase 80 ppm em 37 anos — equivalente a um aumento de cerca de 23%.

NOAA

Esse salto expressivo mostra a aceleração do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, impulsionada pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e expansão industrial. Nos últimos anos, a taxa anual de crescimento do CO₂ tem sido uma das mais altas já registradas, com acréscimos médios próximos de 3 a 4 ppm por ano.

Mundo mais quente em 2025

Em 1998, a temperatura média global atingiu cerca de 0,66°C acima da média de longo prazo, impulsionada por um dos episódios de El Niño mais fortes do século XX. Na época, esse valor representava um recorde e foi amplamente citado como evidência de que o planeta estava aquecendo.

No entanto, o que parecia extremo há pouco mais de duas décadas tornou-se a nova normalidade. Em 2024, segundo dados da NASA e do programa europeu Copernicus, a temperatura média global ficou aproximadamente 1,28°C acima da média do século XX e cerca de 1,47 °C acima dos níveis pré-industriais.

BERKLEY EARTH

Em outras palavras, o planeta aqueceu quase 0,7°C a mais desde 1998. Esse aumento expressivo evidencia a continuidade e a aceleração do aquecimento global, resultado do acúmulo crescente de gases de efeito estufa na atmosfera. Se em 1998 o calor extremo era associado a um evento natural intenso, agora o aquecimento se consolidou como tendência permanente.

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