A MetSul Meteorologia anunciou no domingo que o Oceano Pacífico Equatorial já está em condições de La Niña com base nos dados oceânicos e atmosféricos que hoje têm as características típicas do fenômeno. A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, ontem fez o mesmo anúncio que fora feito no domingo pela MetSul.

O fenômeno La Niña é associado imediatamente à seca, mas o fato de o Oceano Pacífico Equatorial entrar em uma fase fria não significa que deixa de chover ou que a chuva ficará abaixo da média histórica o tempo todo. Vejamos o que ocorre agora no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde apenas na primeira semana de setembro a precipitação já somou a média do mês inteiro em algumas cidades ou se aproxima da média em outras. E vem mais água hoje e nos próximos dias com risco de granizo isolado.

Durante a primavera, e estamos na chamada primavera climática que vai de setembro até novembro, é muito comum que ocorram episódios de chuva excessiva de caráter regional, independente da condição do Pacífico. Isso explica que no passado o Sul do Brasil tenha tido episódios de cheias de rios e enchentes nos meses de setembro e outubro mesmo com o fenômeno La Niña no Pacífico.

Vejamos a última vez que o Pacífico esteve muito frio no trimestre de primavera. Foi em 2010. Naquela oportunidade, a chuva foi irregular no Sul do Brasil. Em setembro, áreas do Rio Grande do Sul tiveram chuva acima da média. E, em outubro, foi a vez do Paraná ter chuva acima da média em diversas regiões e o Rio Grande do Sul ter abaixo da média.

A tendência, com um evento de La Niña presente, é que no Rio Grande do Sul e Santa Catarina a chuva se torne mais irregular. Esta irregularidade costuma se manifestar mais em direção ao final da primavera e o começo do verão, sobretudo nos meses de novembro e dezembro. No Paraná, pela maior proximidade do Sudeste do Brasil, áreas mais ao Norte e o Leste do Estado sofrem os efeitos dos canais de umidade do verão no Sudeste e são menos impactadas. No Sul e no Oeste paranaense, a irregularidade acaba sendo mais acentuada.

Paradoxalmente, e a contrario sensu, quando há um evento de La Niña em muitas oportunidades a chuva ficou acima da média em janeiro no Rio Grande do Sul, sobretudo na segunda metade do mês, para diminuir drasticamente a precipitação entre os meses de fevereiro e março.

Assim, mesmo que o Pacífico esteja no começo do episódio de La Niña de 2020/2021, eventos de chuva volumosa regionalizados pontuais são absolutamente normais e podem ser esperados no Sul do Brasil nas próximas semanas, particularmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.