Ativistas ambientais jogaram sopa de tomate na famosa pintura “Girassóis”, de Vincent van Gogh, na Galeria Nacional de Londres ontem, exigindo que o governo britânico suspenda novos projetos de extração de petróleo e gás. Pouco depois das 11h, hora local, duas ativistas do grupo de desobediência civil “Just Stop Oil” jogaram duas latas de sopa da marca Heinz na tela, que é protegida por vidro, e parte de sua moldura dourada, como mostrado por vídeos nas redes sociais.

JUST STOP OIL/DIVULGAÇÃO

A moldura sofreu “pequenos danos”, mas a pintura estava “intacta”, anunciou a galeria de arte de Londres mais tarde. Pintada em 1888 pelo mestre impressionista holandês, o quadro está avaliado em 84,2 milhões de dólares. À tarde, o quadro já estava limpo e foi colocado de volta no lugar, informou o museu.

Com esta ação, a “Just Stop Oil” procurou exigir que o Executivo britânico suspendesse todos os novos projetos de exploração de hidrocarbonetos no país, disse a organização ambientalista em comunicado pouco depois. Depois de jogar a substância grossa, as duas ativistas se ajoelharam em frente à obra e se colaram na parede da galeria de arte.

Os seguranças do museu chegaram logo depois e levaram os visitantes para fora da sala 43, onde o trabalho está em exibição. A Scotland Yard anunciou que seus “oficiais correram rapidamente para o local na National Gallery nesta manhã depois que duas manifestantes da Just Stop Oil jogaram uma substância em uma pintura e depois se colaram em uma parede”. “As duas foram presas por danos criminais e invasão agravada”, disse a polícia no Twitter.

“Girassóis” é a segunda obra mais famosa de Van Gogh atacada por “Just Stop Oil”, dois dos quais ativistas atingiram a pintura de 1889 “Peach Trees in Bloom” na Courtauld Gallery em Londres no final de junho. “O que vale mais, arte ou vida? Você se importa mais em proteger uma pintura ou proteger nosso planeta e as pessoas?”, lançou uma das manifestantes nesta sexta-feira.

Cada vez mais questionada por suas decisões políticas, econômicas e ambientais, a nova primeira-ministra britânica Liz Truss anunciou levantamento de moratória sobre fraturamento hidráulico no Reino Unido. Além de permitir esse polêmico método de extração de combustíveis fósseis, até então proibido no país, Truss também anunciou o aumento das licenças para extração de petróleo e gás no Mar do Norte, entre suas medidas para combater a crise energética.

Desaprovação entre cientistas

O protesto em Londres gerou reação entre os principais cientistas do clima que estudam as mudanças climáticas e o aquecimento global, e que por anos pedem a redução das emissões dos gases do efeito estufa por combustíveis fósseis.

O cientista climático da Universidade da Pensilvânia, Michael Mann, disse estar preocupado com o fato de o vandalismo “alienar muitas pessoas que precisamos trazer para a causa do clima. Pessoas que são aliadas naturais na batalha climática, mas que farão associações negativas com a defesa do clima e o ativismo de tais atos”.

“Há todo tipo de pesquisa que sugere que essas coisas são um tiro pela culatra. Polariza o público e afasta os moderados que precisamos trazer para o grupo”, afirma Mann. Para tanto, o renomado pesquisador do clima cita estudo da Universidade de Stanford intitulado “Táticas extremas de protesto reduzem o apoio popular aos movimentos sociais”.

“Não. Ruim. Movimentos de protesto não podem ser apenas para fazer uma cena. Outras pessoas precisam entender os alvos que você escolhe. Mais do que tudo, abordar as mudanças climáticas precisa de apoio público e político, e desfigurar a arte do século 19 não trará ninguém ao seu lado”, escreveu Robert Rhodes, cientista líder da Berkeley Earth.

“Pesquisas mostram que esse tipo de tática não funciona para mudar mentes e corações”, disse Dana Fisher, professora de Sociologia da Universidade de Maryland, ao jornal Washington Post. “Alguém impedido de se deslocar para o trabalho ou alguém que acredita que obras de arte insubstituíveis estão sendo destruídas pode ser afastado do movimento climático por algum tempo, ou se não permanentemente. Está funcionando para chamar a atenção, mas para quê?”, indaga.

Protestos crescem

O episódio de Londres foi apenas o mais recente de uma série de protestos climáticos que atingiram museus e galerias de arte em todo o mundo. Em julho, os manifestantes se colaram ao “The Hay Wain”, de John Constable, também na National Gallery de Londres, depois de colar sua própria visão “apocalíptica” do futuro sobre a superfície da pintura.

Naquele mesmo mês, membros de um grupo climático italiano conhecido como Ultima Generazione se colaram a uma pintura de Sandro Botticelli no museu Uffizi, em Florença. Ações semelhantes também ocorreram na Austrália.

Os protestos polêmicos não se têm resumido aos museus ou galerias de arte do mundo. Anos atrás, ativistas do grupo climático Extinction Rebellion subiram no teto de um trem em Londres, impedindo as pessoas de chegar ao trabalho e causando uma briga entre passageiros e manifestantes.

Na semana passada, manifestantes climáticos bloquearam rodovias na área de Washington, nos Estados Unidos, para pressionar o presidente Biden a declarar uma “emergência climática”. Outro grupo, conhecido como Extintores de Pneus, vem murchado pneus de SUVs (camionetes) em todo o Reino Unido e em Nova York, argumentando que os veículos usam mais combustível são prejudiciais a pedestres e ciclistas.