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Um ciclone deve se formar nos litorais de São Paulo e do Rio de Janeiro neste começo de semana e vai afetar as condições do tempo no Sudeste do Brasil e até mesmo em parte das regiões Sul e Nordeste do país com o maior risco sendo chuva localmente volumosa a excessiva com acumulados isolados muito elevados, projeta a MetSul Meteorologia.

Modelos projetam que baixa pressão vai dar origem a um ciclone na costa do Sudeste do Brasil e que se formar junto aos litorais de São Paulo e Rio de Janeiro | METSUL

O ciclone é atípico inicialmente devido ao seu ponto de origem. Deve se formar mais ao Norte do que é comum, na costa do Sudeste, quando a esmagadora maioria dos ciclones que se formam no Atlântico Sul tendem a ocorrer em latitudes mais altas, sobretudo entre a Argentina e o Rio Grande do Sul.

O sistema pode vir a ser anômalo ainda pela sua estrutura, sendo eventualmente classificado como subtropical, mas isso ainda é uma incerteza. Vasta parte dos ciclones que se formam anualmente no Atlântico Sul, entre a América do Sul e a África, são de natureza extratropical. Chegam a ocorrer um ou dois por semana.

Já os ciclones subtropicais e tropicais são muito menos comuns. Para se ter ideia, o último ciclone desta natureza foi Biguá e atuou nos litorais do Uruguai e do Rio Grande do Sul em dezembro de 2024. O penúltimo foi Akará, um sistema que se formou como depressão tropical na costa do Rio de Janeiro e evoluiu em alto mar para tempestade tropical.

O ciclone vai se originar a partir de um centro de baixa pressão que entre hoje (23) e amanhã (24) vai estar no estado de São Paulo, o que vai favorecer chuva – localmente forte – e temporais isolados em Santa Catarina, Paraná, pontos do Centro-Oeste e em diferentes localidades da Região Sudeste.

Amanhã (24), a baixa pressão começa a sea aprofundar junto aos litorais paulista e fluminense, favorecendo mais uma vez instabilidade no Sul do Brasil, especialmente em Santa Catarina e no Paraná, e principalmente na Região Sudeste, afetando os quatro estados da região com chuva que pode ser localmente forte a intensa e temporais de caráter isolado.

Na terça-feira (25), a baixa pressão deve se aprofundar ainda mais na costa do Sudeste, tendo início uma ciclogênese (formação de um ciclone) com o sistema já começando a se afastar gradualmente do continente.

O sistema na terça provoca chuva no Leste paulista, no Rio de Janeiro, Norte e Leste de Minas Gerais e ainda no Espírito Santo. O território capixaba, em especial, poderá ter chuva localmente forte e alguns temporais.

Entre quarta (16) e quinta (27) o ciclone estará plenamente configurado sobre o Atlântico nas coordenadas 27ºS e 35ºO, mais afastado do continente, mais intenso e também mais organizado. Sua pressão mínima central pode cair a 995 hPa a 997 hPa.

O ramo frontal associado ao ciclone deve avançar para Norte com chuva que pode ser forte em alguns pontos no Norte do Espírito Santo, Norte de Minas Gerais e no Sul da Bahia. Setores isolados do sul baiano podem ter chuva intensa e com altos volumes em curto período.

FSU

O mapa acima mostra a trajetória projetada para este ciclone a partir de dados do modelo do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF) em que se observa como a sua formação (ponto A) deve se dar na costa do Sudeste com o seu afastamento ao longo da semana no sentido Leste-Sudeste até se distanciar do continente.

No final desta semana, o ciclone já estará muito distante da América do Sul, em mar aberto no Atlântico, com tendência de dissipação entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro já muito longe do continente.

Quais são os possíveis impactos de chuva do ciclone

Dados analisados pela MetSul Meteorologia não indicam impactos muito significativos deste ciclone na costa do Sudeste do Brasil na maioria das áreas, mas haverá pontos em que a precipitação pode ser volumosa a excessiva com riscos e transtornos.

O maior aprofundamento do sistema com o ciclone atingindo a sua fase madura deve se dar mais longe da costa, evitando que as consequências sejam mais relevantes.

Grande parte da chuva que deve ocorrer em São Paulo, Minas e o Rio de Janeiro deve se dar por efeito da baixa pressão que dará origem ao ciclone entre hoje e a terça-feira. Quando o ciclone atingir a sua fase madura e começar a se distanciar do continente, o sistema em mar aberto deve impulsionar ar mais seco para o Sudeste do Brasil.

No Espírito Santo, parte de Minas Gerais e o Sul da Bahia, a chuva decorrente do ciclone deve ocorrer quando atuar o ramo frontal da baixa pressão ao redor da metade da semana.

Os mapas abaixo mostram a projeção de chuva para sete dias do modelo europeu e para 72 horas do modelo WRF em que se observa como os acumulados de precipitação serão altos a muito altos em setores entre o Sul e o Sudeste do Brasil como consequência da baixa pressão e posterior ciclogênese.

METSUL

METSUL

Os dados apontam que a chuva pode ser localmente volumosa a excessiva por efeito de orografia (interação com o relevo) no extremo Nordeste de Santa Catarina, litoral do Paraná e partes do Sul e do litoral de São Paulo com marcas de 100 mm a 200 mm em algunas cidades, mas que podem ser isoladamente até superiores. São volumes  capazes de gerar inundações e deslizamentos de terra.

Pontos isolados do interior de São Paulo, do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo devem ter 50 mm a 100 mm, com marcas que localmente devem ser maiores. No Norte de Minas Gerais e no Sul da Bahia, a chuva pode ser volumosa e até excessiva com 100 mm a 200 mm, não se afastando registros isolados superiores.

E vento?

Modelos numéricos usados pela MetSul Meteorologia apontam que o campo de vento mais intenso do ciclone deve ficar em mar aberto no Oceano Atlântico com rajadas acima de 100 km/h, ou seja, este sistema não deve ser um grande produtor de vento no continente.

Mesmo assim, o campo de vento do ciclone pode margear a costa do Sudeste durante a terça. O Rio de Janeiro, em especial, pode ter rajadas de vento mais fortes, em média de 50 km/h a 70 km/h e isoladamente mais intensas, no decorrer da terça-feira.

Ciclone extratropical ou subtropical?

O ciclone, no seu momento inicial, terá características muito limites entre extratropical e subtropical, mas à medida que se intensifica e se organiza com distanciamento de terra deve apresentar características essencialmente extratropicais.

Diagramas de fase indicam um ciclone numa área limite entre subtropicale extratropical nos primeiros dias do sistema | FSU

Será extremamente subjetivo, conforme a análise de cada meteorologista, identificar este sistema como extra ou subtropical. Quem faz a classificação de ciclones anômalos (subtropicais ou tropicais) é a Meteorologia da Marinha (quando deveria ser o Instituto Nacional de Meteorologia pelo impacto que esses sistemas trazem em terra).

A regra é que os ciclones (centros de baixa pressão) não tenham características subtropicais ou tropicais no litoral do Brasil, mas em quase todos os anos ocorre ao menos um. Já os ciclones extratropicais são comuns no Atlântico Sul e se formam principalmente das latitudes do Rio Grande do Sul para o Sul.

A diferença entre um ciclone extratropical e um ciclone subtropical está na estrutura, localização e mecanismos que os alimentam. O ciclone extratropical, que é o comum em nossa região, se forma em latitudes médias e altas, associado a frentes frias e quentes, e é alimentado por diferenças de temperatura entre massas de ar frio e quente (gradiente térmico horizontal). Possui um núcleo frio, com temperatura central menor que nos arredores, com frentes meteorológicas bem definidas.

Já o ciclone subtropical se forma em latitudes subtropicais, geralmente entre 20° e 40°, e sua alimentação é mista, combinando gradiente térmico horizontal com processos associados ao calor liberado pela condensação de vapor d’água. Ele apresenta uma estrutura intermediária, com características de ciclones tropicais e extratropicais, e um núcleo parcialmente quente ou quente em níveis altos da atmosfera.

Uma vez que o Brasil batiza com nomes ciclones chamados atípicos, os subtropicais e os tropicais, o que não ocorre com os extratropicais, este ciclone pode ser batizado com um nome, o que não ocorre com um ciclone há um ano.

Se o sistema for classificado como subtropical pela Marinha e passar a apresentar vento sustentado de 63 km/h ou mais, deixará de ser depressão (sem nome) e se converterá em tempestade subtropical, recebendo a partir daí um nome e que seria Caiobá, ou “habitante da mata” em tupi antigo.

O fato de o ciclone ser subtropical ou mesmo receber um nome não significa que seja de alto potencial destrutivo. Ciclones extratropicais, que são comuns e não são batizados com nome, se intensos, podem trazer maior impacto. Aliás, todos os ciclones de alto impacto na história recente foram extratropicais, o tipo comum na região.

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