A MetSul Meteorologia reforça o seu alerta sobre o risco de chuva forte e vento com rajadas fortes a intensas neste fim de semana no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul como consequência de um ciclone que vai se formar junto ao litoral gaúcho e muito rente à costa, onde deve se intensificar.
Modelos numéricos que até então somente indicavam um ciclone mais distante da costa que também deve se formar, mas que não oferece risco para o Sul do Brasil, passaram a acompanhar o indicativo de formação de um segundo ciclone, este sim com impacto no Sul do país, e que vai se formar e se aprofundar junto ao litoral do Rio Grande do Sul durante este fim de semana e a segunda-feira.
Mais do que isso, alguns modelos intensificaram o sistema junto à costa, agravando o risco de rajadas de vento forte a intensas. O modelo norte-americano GFS, em especial, é o que mais intensificou o ciclone na costa gaúcha em suas projeções para o fim de semana com um centro de baixa pressão muito profundo que permaneceria por cerca de dois dias com pouco movimento junto ao litoral gaúcho.
O modelo europeu, que é referência mundial pelo seu alto índice de acerto, superior ao norte-americano, indica uma trajetória parecida com o GFS, entretanto aponta para uma baixa menos profunda e intensa atuando junto ao litoral do Rio Grande do Sul, mas ainda assim profunda.
O modelo norte-americano GFS é que possui a saída mais extremada e agressiva dentre todas as suas simulações. Na rodada das 12Z desta sexta, que ingressou durante a tarde de hoje, apontou um ciclone intenso e compacto (de pequena dimensão) se formando junto ao Litoral Sul do Rio Grande do Sul e depois avançando para Norte durante o fim de semana pelo Leste gaúcho, começando a se afastar a partir do Litoral Norte na segunda enquanto perderia força.
Ciclones compactos, a contrario sensu, não necessariamente são fracos. São diversos os exemplos de ciclones de natureza tropical ou subtropicais que mesmo compactos em seu diâmetro podem possuir um campo de vento muito intenso ao redor do seu centro.
A solução do modelo GFS indica uma condição extrema para o Leste do Rio Grande do Sul. Está sendo considerada em nosso prognóstico, mas levamos em conta na previsão os indicativos também de outro modelos que apontam uma cenário menos a muito menos agressivo de queda de pressão atmosférica e vento.
Ciclone no litoral gaúcho pode ser subtropical
O ciclone que deve se formar na costa gaúcha neste fim de semana, de acordo com os indicativos dos modelos, tende a ser subtropical. A regra é que os ciclones (centros de baixa pressão) não tenham características subtropicais ou tropicais no litoral do Brasil, mas em quase todos os anos ocorre ao menos um. Já os ciclones extratropicais são comuns no Atlântico Sul e se formam principalmente das latitudes do Rio Grande do Sul para o Sul.
A diferença entre um ciclone extratropical e um ciclone subtropical está na estrutura, localização e mecanismos que os alimentam. O ciclone extratropical se forma em latitudes médias e altas, associado a frentes frias e quentes, e é alimentado por diferenças de temperatura entre massas de ar frio e quente (gradiente térmico horizontal). Ele possui um núcleo frio, com temperatura central menor que nos arredores, e uma estrutura assimétrica, com frentes meteorológicas bem definidas.
Por outro lado, o ciclone subtropical se forma em latitudes subtropicais, geralmente entre 20° e 40°, e sua alimentação é mista, combinando gradiente térmico horizontal com processos associados ao calor liberado pela condensação de vapor d’água. Ele apresenta uma estrutura intermediária, com características de ciclones tropicais e extratropicais, e um núcleo parcialmente quente ou quente em níveis altos da atmosfera.
É exatamente o que os modelos mostram nos diagramas de fase e nos campos de temperatura do centro de baixa pressão. É nítida a presença de um centro quente do ciclone e a sua evolução a partir de um centro quente assimétrico.
Se este ciclone se formar terá nome? Ciclones atípicos de natureza subtropical ou tropical recebem nomes na costa brasileira, mas apenas quando o sistema atinge patamar de vento sustentado mais forte. Depressões atmosféricas, mesmo subtropicais ou tropicais, com vento entre 30 km/h e 60 km/h não são classificadas por nome.
Por outro lado, se o sistema passar a apresentar vento sustentado de 60 km/h ou mais, o que deverá ser o caso deste ciclone do fim de semana no litoral, deixará de ser uma depressão e se converterá em tempestade subtropical, recebendo a partir daí um nome.
Com efeito, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Meteorologia Marítima (NORMAM-19), da Marinha, para que haja a classificação do ciclone como tempestade subtropical ou tropical e a sua nomeação, os ventos deverão ser iguais ou superiores a 34 nós ou 63 km/h.
O último ciclone atípico a ser nomeado no Atlântico Sul foi Akará, em fevereiro deste ano, e que se formou na costa do Sudeste. Quem faz a nomeação dos ciclones é a Marinha e já houve casos de sistemas que mesmo subtropicais ou tropicais não foram nomeados pela armada. Se a Marinha nomear o sistema, ele será designado pelo nome de Biguá.
Ciclone pode trazer rajadas fortes a intensas
A MetSul Meteorologia adverte que este ciclone pode trazer rajadas de vento fortes a intensas no Sul e no Leste do Rio Grande do Sul neste fim de semana e talvez ainda nas primeiras horas da segunda-feira. O vento poderá afetar a rede elétrica e trazer danos ou transtornos em diferentes pontos.
Uma vez que há discrepância dos modelos quanto ao posicionamento do ciclone (uns mais ao Sul e outros mais ao Norte no litoral gaúcho) e quanto a sua intensidade, por óbvio os dados apresentam projeções distintas de velocidade de vento. Os mapas abaixo mostram a projeção de vento máximo dos modelos de alta resolução WRF inicializados com os modelos europeu ECMWF e norte-americano GFS.
Como se observa, o modelo WRF inicializado com o modelo norte-americano apresenta o cenário mais extremo com rajadas até de 120 km/h a 140 km/h em pontos da costa e próximos na parte central e Norte do litoral gaúcho, especialmente entre a Lagoa dos Patos e o Atlântico. Já o modelo WRF inicializado com o modelo europeu indica vento mais forte na Campanha e no Sul do estado.
De acordo com o nosso prognóstico, considerando todos os dados e não apenas um único modelo, as rajadas no Sul e no Leste gaúcho neste fim de semana devem ficar entre 60 km/h e 90 km/h na maioria das áreas, mas em alguns pontos podem alcançar marcas ao redor e acima de 100 km/h. Isoladamente, em parte da costa, especialmente do Centro para o Sul da faixa costeira, podem ocorrer rajadas mais intensas, acima de 120 km/h.
Sob este cenário, é alto o risco de queda de árvores, postes, destelhamentos e colapso de estruturas. Inevitavelmente, haverá impacto no setor elétrico com falta de luz em consequência do vento na área da CEEE Equatorial, que é a empresa que cobre o Sul e o Leste do estado.
Há risco também de chuva forte
A atuação do ciclone na costa neste fim de semana pode trazer ainda chuva volumosa em pontos do Leste do Rio Grande do Sul com pancadas localmente fortes a torrenciais em alguns momentos. Não será chuva volumosa generalizada, mas localizada e que deve se concentrar perto do centro da baixa pressão.
Os mapas abaixo mostram as projeções de chuva em 72 horas até às 9h de segunda-feira a partir dos modelos de alta resolução WRF inicializados com os modelos norte-americano GFS e do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF), ambos disponíveis ao nosso assinante (assine aqui) na seção de mapas.
Como se observa, a chuva pode atingir marcas até de 100 mm ou mais em setores do Leste do Rio Grande do Sul, mas não em toda a região. Nos locais onde mais chover há risco de alagamentos e inundações, inclusive repentinas.
A instabilidade atua neste fim de semana com vários períodos de chuva no Sul e no Leste do estado, entretanto o tempo não deve firmar ainda na segunda-feira que deverá ser outro dia com instabilidade atmosférica e sujeito à chuva em vários pontos da Metade Leste gaúcha.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.