A MetSul Meteorologia alerta que o restante do mês de outubro reserva ainda chuva muito acima da média histórica com volumes extremos no Sul do Brasil. Rio Grande do Sul e Santa Catarina devem ser os estados mais atingidos pelas intensas precipitações, embora se preveja chuva acima da média também em diversas áreas do estado do Paraná.
Algumas áreas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina ainda podem registrar acumulados adicionais até o fim de outubro de 200 mm a 400 mm com marcas isoladamente superiores, o que deverá levar a novas enchentes e potencialmente maiores que as observadas agora na primeira semana de outubro.
Somente a primeira semana de outubro no Rio Grande do Sul teve acumulados de chuva, conforme estações do Instituto Nacional de Meteorologia, de 233 mm em Erechim, 225 mm em Palmeira das Missões, 212 mm em Frederico Westphalen, 193 mm em Santo Augusto, 170 mm em Passo Fundo, 150 mm em São José dos Ausente e 143 mm em Lagoa Vermelha.
Em Santa Catarina, de acordo com as estações da Epagri-Ciram, os acumulados durante os primeiros sete dias de outubro chegaram a 265 mm em Celso Ramos e Mirim Doce, 263 mm em Joaçaba, 260 mm em Piratuba, 255 mm em Taió, 253 mm em São Joaquim, 213 mm em Concórdia, 211 mm em Tijucas, 206 mm em Major Vieira, 204 mm em Rio Negrinho, e 200 mm em Porto União.
Com o que já choveu e ainda se espera de chuva no restante do mês, a MetSul projeta que grande número de cidades da Metade Norte do Rio Grande do Sul e do estado de Santa Catarina deve terminar outubro com acumulados de chuva de 300 mm a 500 mm, não se descartando marcas de 500 mm a 600 mm no total mensal em alguns pontos.
A chuva extraordinária prevista para este mês de outubro na Metade Norte gaúcha vai se somar aos acumulados já excepcionais registrados em setembro na região. Estações do Instituto Nacional de Meteorologia registraram no último mês 539,6 mm em Serafina Corrêa; 507,1 mm em Cruz Alta; 503,6 mm em Ibirubá; 498,0 mm em Passo Fundo, 488,8 mm em Tupanciretã; 448,6 mm em Vacaria; 440,6 mm em Soledade; 433,6 mm em Canela; 427,0 mm em Bento Gonçalves; 412,6 mm em Cambará do Sul; e 406,0 mm São Luiz Gonzaga.
Dois meses seguidos de chuva nestes patamares de 300 mm a 500 mm na Metade Norte do Rio Grande do Sul são incrivelmente raros. Pouquíssimas vezes na história, como em abril e maio de 1941, se observou tanta chuva por dois meses consecutivos. O fenômeno El Niño no Oceano Pacífico certamente é uma das variáveis que está contribuindo para a chuva fora do comum, mas estudos de atribuição climática podem identificar outras causas.
O último boletim semanal sobre o estado do Pacífico da agência climática dos Estados Unidos (NOAA) indicou que a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,5ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central. Esta região é a usada como referência para definir se há El Niño e qual a sua intensidade. O valor está na faixa de transição de El Niño moderado (+1,0ºC a +1,4ºC) e El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC).
Veja os mapas de projeção de chuva
Os modelos numéricos de tempo (curto prazo) e clima (longo prazo) são unânimes em projetar chuva muito acima dos padrões históricos para o restante deste mês na Metade Norte gaúcha e em Santa Catarina. O modelo europeu, por exemplo, em suas projeções de longo prazo, chega a indicar acumulados acima de 300 mm para setores do Noroeste gaúcho no restante deste mês.
Mais a curto prazo, o modelo determinístico europeu sinaliza volumes de 100 mm a 250 mm em grande parte da Metade Norte gaúcha nos próximos dez dias enquanto cidades da Metade Sul do estado seguiriam recebendo volumes de chuva muito menores após um setembro por demais chuvoso na região. Muitas áreas de Santa Catarina também teriam chuva excessiva nos próximos dez dias.
O modelo canadense, por sua vez, em sua projeção de dez dias, da mesma forma indica acumulados muito altos para a Metade Norte do Rio Grande do Sul e os estados de Santa Catarina e do Paraná com marcas acima de 100 mm em muitas áreas e acumulados acima de 200 mm em algumas localidades.
Por fim, o modelo norte-americano GFS apresenta tendência parecida. Na sua projeção de chuva para 15 dias, portanto em intervalo maior que o europeu e o canadense, o GFS sinaliza acumulados de 100 mm a 200 mm no período em muitas áreas do Centro para o Norte gaúcho até o Paraná com volumes de 200 mm a 300 mm em parte do Sul do Brasil.
Na Metade Sul gaúcha, onde chove pouco nesta primeira metade de outubro, espera-se um aumento dos volumes de chuva durante a segunda quinzena do mês. Mesmo assim, os acumulados não serão extremos como no mês passado e em cidades mais ao extremo Sul, nas áreas do Chuí e de Santa Vitória do Palmar, tendem a ser muitíssimos menores que os de setembro.
Outubro reserva mais enchentes
Diante do cenário de chuva que se esboça para o restante do mês, a MetSul afirma com segurança que as enchentes que atingem hoje o Rio Grande do Sul e Santa Catarina não serão as últimas deste mês e que devem ser esperadas mais cheias de rios no restante do mês, especialmente em bacias que cortam a Metade Norte gaúcha e em várias do estado catarinense.
No Rio Grande do Sul, os rios com maior probabilidade de novas e maiores cheias nas próximas três semanas são o Uruguai, que tem suas nascentes na divisa dos estados gaúcho e catarinense, e os que possuem nascentes na Metade Norte, como o Jacuí, e os que cortam os vales, com cabeceiras na Serra e Aparados, como o Taquari e o Caí. O Taquari, que hoje tem cheia no vale, deve ter novas cheias no restante de outubro.
Como consultar os mapas
Todos os mapas de chuva neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece ainda mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.