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Buenos Aires teve uma terça-feira de chuva intensa e inundações com recorde de chuva na estação do Aeroparque | LUIS ROBAYO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Centro da Argentina e o Uruguai experimentam uma sequência de dias extremamente instáveis com chuva e temporais frequentes que provocam danos e transtornos para a população. Com o noticiário das tempestades nos países vizinhos, o senso comum crê que os temporais estão a caminho do Rio Grande do Sul e vão atingir o estado. Será que vai acontecer isso?

Nesta terça, temporal com chuva extrema em curto período, de até 120 mm em apenas três horas, colapsou o Sul da cidade de Buenos Aires e a Grande Buenos Aires no começo do dia. Outro temporal com chuva forte à tarde agravou a situação.

A capital da Argentina e municípios do chamado conurbano tiveram inundações, ruas alagadas, queda de árvores, falta de luz para centenas de milhares de pessoas, paralisação de linha do metrô e ainda atrasos ou cancelamento de voos em Aeroparque e Ezeiza.

Os volumes medidos por estações meteorológicas em 24 horas até às 9h desta terça-feira atingiram 140 mm em Morón, 127 mm no Aeroparque, 104 mm no Aeroporto de Ezeiza e 99 mm no Observatório Central de Buenos Aires (Villa Ortúzar).

Como seguiu chovendo depois, os volumes desde ontem são ainda maiores. Entre 9h e 15h caíram mais 25 mm no Aeroparque, 34 mm no observatório, 20 mm em Morón e 32 mm em Ezeiza. O acumulado entre 9h de ontem e 15h de hoje no Aeroparque foi de 152 mm, o maior em um dia já observado em março.

No Uruguai, fortes áreas de instabilidade que avançaram da Argentina trouxeram chuva forte com alagamentos na cidade de Montevidéu durante a tarde. A chuva veio com fortes a intensas rajadas de vento que chegaram a 83 km/h no Aeroporto Internacional de Carrasco, em Canelones.

Inicialmente, o que está acontecendo nos países do Prata decorre da massa de ar muito quente que traz o calor no Centro, Norte e o Nordeste da Argentina, no Paraguai, e no Centro-Sul do Brasil. Correntes de vento de Norte com ar muito quente alimentam as áreas de instabilidade entre o Centro argentino e o Uruguai. Sucessivos sistemas de tempestade se formam um atrás do outro na região, movendo-se de Oeste para Leste.

A massa de ar muito quente cobre também a área de Buenos Aires e de Montevidéu, mas não provoca forte calor. Isso porque sobre a área atua uma frente quente que traz abundante nebulosidade e chuva frequente com temporais, impedindo uma maior elevação da temperatura.

Não é o caso de outras áreas do Centro e do Norte da Argentina sem a influência da instabilidade da frente quente. Hoje, às três da tarde, a temperatura estava 43,4ºC em Rivadavia (Salta); 41,8ºC em Las Lomitas (Formosa); 40,6ºC em Chepes (La Rioja); e 40,2ºC em San Fernando de Catamarca (Catamarca). Muitas outras cidades registravam no horário entre 37ºC e 40ºC. Em Santa Fé, uma cidade alcançou quase 51ºC de sensação térmica.

Trata-se da mesma massa de ar quente responsável pelo calor no Rio Grande do Sul. Hoje, as máximas chegaram na rede oficial a 36,8ºC em São Borja; 36,1ºC em Uruguaiana; 35,9ºC em São Luiz Gonzaga; 35,7ºC em Teutônia e Alegrete; 35,6ºC em Campo Bom; 35,3ºC em São Vicente do Sul; e 35,0ºC em Quaraí.

Grande e intensa massa de ar quente atua na região | METSUL

Corrente de jato (corredor de vento) na baixa atmosfera traz ar muito quente da Bolívia que alimenta as tempestades que se formam a todo momento no Centro da Argentina e no Uruguai | METSUL

Então, os temporais da Argentina e do Uruguai vão avançar para o Rio Grande do Sul? A resposta é sim, mas com uma enorme ressalva: não neste momento. Vai demorar ainda um pouco para que a instabilidade dos países vizinhos passe a atuar na maioria das áreas do Rio Grande do Sul.

Geralmente, a chuva e os temporais do Prata atingem o Rio Grande do Sul horas depois, mas não é este o caso de agora. A bolha de calor impede o avanço da instabilidade, que fica parada por vários dias no Centro da Argentina com movimento das nuvens de chuva e temporais predominantemente de Oeste para Leste, sem evoluir para o Norte.

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Tanto nesta quarta como na quinta a instabilidade vai seguir concentrada sobre o Centro da Argentina e o Uruguai. Embora o risco de chuva forte persista na cidade de Buenos Aires, o maior perigo de chuva intensa entre as capitais do Prata será para Montevidéu, no Uruguai, que pode ter muitos problemas por chuva excessiva nos dois dias.

Enquanto isso, a massa de ar quente se reforça. O pior do calor no Rio Grande do Sul ocorre nesta quarta e na quinta om as maiores máximas na quinta, que podem ficar perto de 40ºC ou até alcançar 40ºC em pontos do interior. A Grande Porto Alegre pode ter 37ºC a 39ºC.

A massa de ar quente sobre o Rio Grande do Sul se intensifica nesta quarta-feira e traz um dia de muito calor para o estado. Todas as regiões terão uma tarde muito quente para a metade de março, inclusive cidades de maior altitude da Serra. Noroeste, Oeste, Centro, Campanha, Sul, Vales e a Grande Porto Alegre serão as áreas mais quentes do estado com máximas de 35ºC a 38ºC em muitas cidades.

O sol predominará no território gaúcho ao longo desta quarta-feira, mas nuvens altas aparecem pelas áreas de tempestades no Uruguai. Não se pode afastar que a chuva do país vizinho alcance o extremo Sul gaúcho, no Chuí. Na quinta, o tempo firme ainda vai predominar no estado, mas não se descarta chuva no Sul gaúcho.

A instabilidade dos países vizinhos começa a avançar mesmo pelo Rio Grande do Sul na sexta e vai se manter no fim de semana com chuva em todas as regiões, em algumas só a partir de sábado. Será alto o risco de episódios de chuva isolada intensa e com risco de temporal.

Projeção de chuva do modelo meteorológico alemão Icon para quarta, quinta, sexta e sábado no Sul do Brasil | METSUL

Uma vez que a massa de ar quente, úmida e extremamente instável se transfere para o Sul do Brasil no final da semana, o Rio Grande do Sul terá uma sequência de muitos dias de instabilidade e chuva com períodos de melhoria temporária.

Do final desta semana até a metade da próxima a chuva será frequente no estado com pancadas localmente torrenciais e temporais isolados, o que vai provocar volumes muito altos de precipitação e até excessivos em parte do território gaúcho, tal como se está vendo agora na Argentina e no Uruguai.

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