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FERNANDO OLIVEIRA/ARQUIVO

Uma mera publicação da Prefeitura de Porto Alegre no final da terça-feira na rede social X com dados do nível do Guaíba acabou por gerar inquietação no público, ainda traumatizado por conta do desastre de maio em que a capital gaúcha enfrentou a maior enchente de sua história com 5,12 metros oficialmente no Cais Mauá.

A publicação na rede social, apenas com números de nível e cotas, e ainda com dados de uma estação que não se mostrou precisa na enchente de maio, não ofereceu qualquer contexto sobre o risco ou não de cheia e enchente em Porto Alegre, o que acabou por gerar inquietação e ansiedade nas pessoas sobre o nível do Guaíba.

Então, oferecemos o contexto e de pronto a resposta: não haverá enchente em Porto Alegre e as pessoas podem ficar absolutamente tranquilas porque não se produzirá uma elevação muito significativa do nível como em maio ou em 2023.

Por quê? Inicialmente, o nível atual é baixo. A régua da TideSat no Cais Mauá, junto ao Centro, a que melhor registrou os níveis em maio, marcava na madrugada desta quarta-feira 0,91 metro. A cota de inundação (ou de transbordamento) no local é de 3,00 metros. Ou seja, está mais de dois abaixo da cota de extravasamento.

Para entender como se avalia o risco de enchente em Porto Alegre é preciso compreender primeiro como nascem as enchentes que atingem a capital a partir da geografia e da hidrologia do Rio Grande do Sul.

Assim, importante atentar para a chamada macrobacia do Guaíba. As enchentes em Porto Alegre ocorrem pela subida das águas do Guaíba. No Guaíba desaguam as águas de vários rios. São eles o Jacuí, o Taquari (que começa como Rio das Antas), o Caí, Sinos (que recebe as águas do Paranhana) e o Gravataí.

Quase todos estes grandes rios são alimentados por arroios e rios menores O que todos estes rios cujas águas vão parar no Guaíba têm em comum? Eles são todos do Centro para o Norte do estado e tem suas nascentes, exceção do Gravataí e Sinos que nascem junto ao litoral, no Norte do Rio Grande do Sul.

O Rio Jacuí, principal contribuinte do Guaíba, tem suas nascentes perto de Passo Fundo antes de descer para o centro do estado (Cachoeira do Sul e região) e avançar pelo Vale do Rio Pardo até a Grande Porto Alegre. Caí e Taquari nascem nos Campos de Cima da Serra.

Ou seja, para que haja enchente em Porto Alegre é preciso que chova muito nas bacias destes rios, todos da Metade Norte do estado. Chuva excessiva na Metade Sul gaúcha ou apenas na cidade de Porto Alegre não gera cheia no Guaíba.

Uma vez que o nível atual do Guaíba está mais de dois metros abaixo da cota de 3,00 metros que é a de transbordamento, seria preciso chover uma enormidade na Metade Norte para que houvesse uma enchente. E nenhum dado indica sequer algo perto disso ocorrer.

Os maiores volumes de chuva vão ocorrer nas bacias dos rios Caí, Taquari e Gravataí, mas na principal bacia contribuinte, que é a do Jacuí, não haverá chuva muito excessiva. Além disso, a chuva com maior intensidade ocorre apenas hoje e, embora se preveja ainda instabilidade nos próximos dias, os volumes não serão altos.

Assim, considerando (1) o nível atual do Guaíba baixo, (2) quanto já choveu e a previsão de quanto irá ainda chover nos rios contribuintes nas próximas horas, e (3) a chuva mais volumosa ser limitada ao Leste da Serra e ao Litoral Norte com menor repercussão na vazão em Porto Alegre, é possível se antecipar que o nível inevitavelmente subirá sem que isso represente o risco de enchente para a área não insular de Porto Alegre.

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