Anúncios

Os campos estão cheios, mas o arroz paddy apresenta-se marrom e murcho, enquanto o ar carrega o cheiro de lavouras e animais em decomposição. É o rastro da pior temporada de monções em décadas, que deixou um cenário de devastação no Punjab, considerado o celeiro agrícola da Índia.

Sádhu, ou homem santo hindu, mergulha no alagado Manikarnika Ghat após a elevação do nível do rio Ganges em Varanasi, na India | NIHARIKA KULKARNI/AFP/METSUL

As inundações submergiram áreas agrícolas comparáveis à soma das cidades de Londres e Nova York, destruindo plantações inteiras. O ministro da Agricultura do país admitiu, em visita recente, que “as lavouras foram arruinadas”, e o chefe de governo estadual classificou o desastre como “uma das piores enchentes em décadas”.

Moradores mais antigos confirmam a gravidade. “A última vez que vimos algo assim foi em 1988”, disse Balkar Singh, de 70 anos, cuja propriedade foi transformada em pântano. Além de perder a produção, sua casa sofreu rachaduras.

Segundo o Departamento Meteorológico da Índia, as chuvas em Punjab superaram em quase dois terços a média de agosto, deixando pelo menos 52 mortos e afetando mais de 400 mil pessoas. O primeiro-ministro Narendra Modi anunciou um pacote de ajuda de cerca de US$ 180 milhões para a região.

Em vilarejos como Toor, próximo à fronteira com o Paquistão, a devastação foi total. “A água chegou de madrugada e subiu até três metros em poucos minutos”, relatou o trabalhador rural Surjan Lal. Os moradores ficaram ilhados por quase uma semana, sobrevivendo nos telhados enquanto perdiam animais e pertences.

O agricultor Rakesh Kumar, de 37 anos, disse ter perdido não apenas suas terras próprias, mas também áreas arrendadas para aumentar a produção. Agora teme não conseguir preparar o solo a tempo de plantar o trigo de inverno, principal cultura da estação. Máquinas pesadas para retirar o lodo dificilmente chegam à região, já que a ponte flutuante de acesso só funciona em períodos de estiagem.

A situação é ainda mais dramática para trabalhadores sem terra, como Mandeep Kaur, de 50 anos, que dependia das colheitas dos grandes proprietários. “As lavouras sumiram e minha casa foi levada pela água”, contou, hoje vivendo sob uma lona, vulnerável a cobras que infestam o solo encharcado.

Punjab é o maior fornecedor de arroz e trigo para o programa de segurança alimentar da Índia, que garante grãos subsidiados a mais de 800 milhões de pessoas. Especialistas dizem que os estoques nacionais devem evitar impacto interno imediato, mas a exportação de arroz basmati, tradicional e valioso, tende a cair.

Para os agricultores, a recuperação será ainda mais difícil porque o estado optou por não aderir ao seguro agrícola federal, considerado caro e desnecessário. “O campo ainda está com água no joelho”, resumiu Singh, o septuagenário agricultor. “Não sei o que será de nós daqui em diante.”

A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.