Cidades chinesas costumam sofrer com altíssimos índices de poluição pelo uso em massa de carvão que prejudica também o clima planetário | NICOLAS ASFOURI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Apesar da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia, a eliminação gradual do carvão continuou em todo o mundo em 2022, de acordo com um novo relatório da ONG Global Energy Monitor. Em todos os lugares, exceto na China, onde a nova capacidade de produção de carvão em desenvolvimento aumentou, anulando os ganhos para o meio ambiente no resto do mundo.

Em um estudo publicado esta semana, o Global Energy Monitor, uma ONG com sede em San Francisco, informou que, em 2022, os esforços globais para eliminar gradualmente o carvão, uma das fontes de energia que mais prejudicam o clima, continuaram. Os temores do “retorno do carvão”, provocados pelas consequências e interrupções da invasão russa da Ucrânia no ano passado, não se concretizaram no final.

Essa é a boa notícia. Agora, a má: a China contrariou a tendência global. Pior ainda, as novas adições de usinas de carvão da China no ano passado compensaram as paralisações de usinas de carvão no resto do mundo.

Em seu relatório anual sobre a produção de carvão, “Boom and Bust Coal 2023”, o Global Energy Monitor registrou progresso em todo o mundo, exceto na China. O número de usinas a carvão em operação diminuiu em todo o mundo e isso inclui a desativação ou conversão de usinas a carvão em países como Peru e Emirados Árabes Unidos.

De acordo com o estudo, nenhum novo projeto a carvão está sendo considerado na União Europeia, América do Norte ou Norte da África. No Oriente Médio, o relatório observou que a usina de Tabas em construção no Irã pode ser “a última nova usina de carvão da região”.

Os Estados Unidos encabeçam a lista de bons desempenhos: sua geração de energia a carvão caiu 13,5 gigawatts (GW). Isso é metade do declínio global, estimado em 26 GW até 2022. Já a União Europeia registou um decréscimo de apenas 2,2 GW. É um número baixo em relação a 2021, quando atingiu a aposentadoria recorde de 14,6 GW.

A crise do gás desencadeada pela invasão russa da Ucrânia levou sete países a autorizar o reinício ou a operação de usinas a carvão. Isso inclui a Alemanha e a Áustria, bem como a Holanda, que reverteu uma lei que limitava a operação das usinas a 35% de sua capacidade.

A França, por outro lado, reiniciou a produção na usina de Emile-Huchet, na região oriental de Moselle. No total, 26 usinas a carvão na UE que já estavam fechadas ou programadas para fechar finalmente operaram durante o inverno, de acordo com dados do Global Energy Monitor.

Mas, em total contraste com essa tendência promissora em muitas partes do mundo, a China moveu-se contra a maré, obscurecendo o cenário global. “As novas adições constantes de usinas de carvão da China (26,8 GW) compensaram as desativações de usinas de carvão no resto do mundo (23,9 GW) em 2022”, disse o Global Energy Monitor.

A China agora tem 365 GW de capacidade de geração, em comparação com uma média de 172 GW em outros lugares. Mais alarmante, a China sozinha agora responde por 68% dos projetos relacionados ao carvão em desenvolvimento em todo o mundo, e 72% deles estão em andamento.

Os números ruins da China, entretanto, poderiam ser piores. Em 2019, o carvão representou 57,7% da geração da China. Em 2022, será de 56,2%. Portanto, há uma leve tendência de queda. Paralelamente, a China está investindo maciçamente em energias renováveis. Elas representaram, com as nucleares, 15,3% da matriz energética em 2019. Essa participação subiu para 17,4% em 2022 e a meta é chegar a 20% até 2025.

“Hoje, quase um terço da capacidade operacional global de carvão (580 GW) tem uma data de desativação gradual, e grande parte da capacidade restante (1.400 GW) está sob a alçada das metas de neutralidade de carbono”, observou o relatório.

Apesar desses avanços, o ritmo da eliminação global do carvão permanece incompatível com a meta do Acordo de Paris. Para limitar o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C, todas as usinas existentes devem ser fechadas até 2030 nos países desenvolvidos e até 2040 no resto do mundo.