
Vista aérea da cidade de Hualqui, cerca de 30 quilômetros ao Sul de Concepción, no centro do Chile, no último dia 25 de junho. As chuvas, que atingiram 80 mm nos Andes, causaram mortes, inundações e deixaram milhares fora de casa. | GUILLERMO SALGADO/AFP/METSUL METEOROLOGIA
O Chile volta a entrar em alerta máximo por um novo evento de chuva excepcional que deverá atingir o país. Foi decretado alerta meteorológico devido às intensas chuvas com a isoterma zero (altitude da atmosfera em que a temperatura é de 0ºC) na região metropolitana de Santiago. O alerta é também para outras áreas do Centro-Sul do país.
A previsão do governo é que entre a manhã de sábado e a noite de domingo cerca de 90 milímetros de água caiam nas montanhas junto a Santiago. Enquanto isso, para as regiões de O’Higgins e Maule, onde foi decretado alerta máximo, a previsão é que chova até 130 mm.
A ministra do Interior, Carolina Tohá, afirmou que “haverá chuva muito abundante, sobretudo amanhã e domingo”. Nesse sentido, explicou que as precipitações vão ocorrer nas altas montanhas, onde “normalmente cai neve”.
“E quando isso acontece, desprende-se material e nesta altura há neve acumulada. Então (…) isso pode ter vários tipos de consequências”, disse. “Isso afeta os sistemas que fornecem água potável, muitas vezes podem ser gerados deslizamentos de terra, o que pode causar inundações”, afirmou.
A ministra apelou à população para que tome medidas de segurança e esteja atenta às orientações das autoridades. “A Região Metropolitana estará junto com O’Higgins e Maule entre as regiões mais afetadas por esta tempestade”, acrescentou.
Hoje, autoridades governamentais anunciaram o fechamento de vários parques e reservas nacionais devido ao sistema frontal previsto para este fim de semana na zona centro-sul. Após análise técnica de risco, autoridades do Ministério da Agricultura, da Corporação Nacional de Florestas (CONAF) e do Serviço Agropecuário (SAG) determinaram que a presença de pessoas nesses espaços durante as chuvas pode resultar em acidentes.
O governo chileno teme que a chuva possa ser semelhante à registrada em junho e que causou estragos em várias regiões. Dois meses atrás, algumas estações chegaram a registrar 70 mm a 800 mm de precipitação.
Agora, o governo prevê precipitação líquida até terça-feira da próxima semana, de Valparaíso a Biobío, com alta isotérmica de 3.000 a 3.200 metros. São esperadas quantidades aproximadas de 100 mm a 250 mm. Os dados analisados pela MetSul, contudo, indicam potencial de chuva com volumes muito mais altos.

Modelo Icon projeta mais de 700 mm no Centro do Chile | METSUL
Tanto o modelo alemão Icon quanto o europeu ECMWF apontam a possibilidade de chuva de 700 mm a 800 mm sobre os Andes no Centro do Chile nos próximos dias, o que significa que não se pode descartar acumulados perto de mil milímetros em alguns pontos até a metade da semana. Trata-se, assim, de chuva catastrófica em episódio semelhante ao de junho e quase na mesma área.
As intensas precipitações de chuva e neve entre Chile e Argentina nos próximos dias serão efeito de um rio atmosférico de grande intensidade que se origina no Pacífico e transporta enorme quantidade de umidade para os Andes. Uma vez que a isoterma estará alta, ou seja, a temperatura só atingirá 0ºC em elevada altitude, em muitos locais em que a precipitação deveria vir na forma de neve estará caindo como chuva e com volumes excessivos.

Rio atmosférica trará umidade do Pacífico para os Andes | CONICET
Os rios atmosféricos são regiões longas e concentradas na atmosfera que transportam ar úmido dos trópicos para latitudes mais altas. O ar úmido, combinado com ventos de alta velocidade, produz chuva pesada e neve, conforme a região no mundo. Esses eventos extremos de precipitação podem levar a inundações repentinas, deslizamentos de terra e danos catastróficos à vida e à propriedade.
Embora os rios atmosféricos tenham muitas formas e tamanhos, aqueles que contêm as maiores quantidades de vapor de água podem criar chuvas e inundações extremas, muitas vezes parando sobre bacias hidrográficas vulneráveis a inundações.
Tais episódios podem interromper estradas, induzir deslizamentos de terra e causar danos catastróficos à vida e à propriedade. Um exemplo bem conhecido de um rio atmosférico é o “Pineapple Express”, um forte rio atmosférico capaz de trazer umidade dos trópicos próximos ao Havaí para a costa Oeste dos Estados Unidos.