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Guaíba, que só havia transbordado uma vez no Centro em 80 anos, agora deve transbordar pela tercera vez em apenas nove meses | FILIPE KARAM/PMPA/ARQUIVO

A MetSul Meteorologia alerta que a cheia do Guaíba será de extrema gravidade diante de quadro hidrológico excepcional no interior e, em algumas bacias, sem precedentes. Moradores de áreas de risco de inundação nas ilhas devem com a máxima urgência começar a retirar pertences e estar atentos aos comunicados da Defesa Civil porque certamente haverá necessidade de evacuação.

O nível do Guaíba no começo da manhã desta quinta-feira estava em 2,70 metros no Cais Mauá e subia muito rapidamente. Entre hoje e amanhã, o Guaíba deverá ultrapassar a cota crítica de transbordamento no Cais do Centro de Porto Alegre, o que não ocorre nesta época do ano desde a grande enchente de 1941.

Desde 1941, com cota máxima de 4,76 metros (literatura tem números discrepantes e próximos desta marca), o Guaíba somente excedeu 3,00 metros no Cais Central e, assim, transbordou em meses de fim de inverno e primavera: setembro de 1967 (3,11 metros), setembro de 2023 (3,18 metros) e novembro de 2023 (3,46 metros).

Cenário hidrológico dos rios que desembocam no Guaíba é da maior gravidade e crítico. Maior contribuinte do Guaíba, o Rio Jacuí teve chuva de 400 mm a 600 mm em uma semana nas nascentes e na parte intermediária da bacia. Dados preliminares indicam que a vazão perto das nascentes, na região de Dona Francisca, é excepcionalmente alta.

O segundo maior contribuinte, o sistema Taquari-Antas, que desemboca no Jacuí perto de Porto Alegre, apresenta cheia extraordinária e jamais vista em 150 anos de medições. O nível do Taquari na região de Estrela nesta manhã atingia 32 metros, muito acima do recorde de 2023 de 29,5 metros, e segue subindo no vale. A Defesa Civil de Lajeado projeta cotas de 34 metros a 35 metros, portanto, cinco a seis metros acima do recorde de um século e meio.

O Rio Caí enfrenta uma cheia histórica. O Sinos começa a registrar uma grande cheia no Vale e ainda não recebeu a maior vazão das nascentes e o grande volume de água que desce do Paranhana e inundava Igrejinha nesta manhã. O Gravataí é o único dos rios contribuintes que não apresenta cheia de maior proporção no momento. Os principais rios contribuintes, que respondem por mais de 80% da vazão do Guaíba, ou estão com cheia recorde ou de proporções históricas.

Sob este cenário, que é muito mais claro hoje do que nos dias anteriores, uma vez que já se tem o panorama mais completo da chuva depois da precipitação forte que se previa para ontem e o começo desta quinta, é possível afirmar que a perspectiva que já se tinha de uma cheia grande do Guaíba passou para uma cheia de gravidade extrema.

A cheia pode testar os níveis máximos observados em 2023 e não se descarta mesmo que possa superá-los, colocando em patamares intermediários entre as maiores cheias de 1873 (3,50 metros) e 2023 (3,46 metros) e a de abril e maio de 1941 (4,76 metros). Ou seja, no melhor e mais remoto cenário o Guaíba apenas supera a marca de 3,00 metros, o que já é excepcional, e no pior a cheia atingirá marcas intermediária entre 1873-2023 e 1941.

Se o robusto sistema de contenção de cheias (Muro da Mauá e diques) funcionar como foi planejado e à perfeição, o Guaíba não invadirá a cidade. Mesmo assim, pelo refluxo na rede pluvial, podem ocorrer alagamentos nas áreas próximas da Voluntários da Pátria entre o Quarto Distrito e a Rodoviária assim como na região na Praia de Belas. O Guaíba pode avançar em áreas sem contenção, como Ipanema e o extremo Sul da cidade.

A muito grave cheia do Guaíba deve represar o Arroio Feijó, causando inundações na zona Norte e em Alvorada assim como pode represar o Rio Gravataí entre Gravataí e Cachoeirinha, com alagamentos e inundações. Em Canoas, a situação pode ficar crítica porque a cidade sofrerá os efeitos da grande cheia do Guaíba com represamentos dos rios Caí e Sinos, com grandes cheias, em cenário mais perto do evento de 1965, o maior, do que de 2023.

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