Os gaúchos têm sido presenteados nesta semana com entardeceres de rara beleza. O céu vem exibindo uma paleta intensa de cores, onde predominam tons de laranja, rosa e vermelho, encantando observadores e rendendo inúmeros registros fotográficos.
Entardecer de ontem em Porto Alegre visto da Avenida Ipiranga | FERNANDO OLIVEIRA
Esse espetáculo da natureza não ocorre por acaso. As condições atmosféricas explicam por que o céu ganha tantos matizes no final do dia. O principal fator envolvido é a presença de nuvens altas, especialmente do tipo Cirrus, que amplificam os efeitos da luz solar.
As nuvens Cirrus se formam em altitudes elevadas, geralmente acima de oito quilômetros, e são constituídas por cristais de gelo muito pequenos. Finas e translúcidas, permitem a passagem da luz, mas espalham e refratam os raios solares intensificando as cores.
Nos finais de tarde, o sol se encontra baixo no horizonte e a luz precisa atravessar um caminho maior pela atmosfera. Esse percurso prolongado filtra as ondas curtas, como o azul, e deixa visíveis tons quentes como o vermelho e laranja.
Quando essa luz encontra nuvens Cirrus, o efeito se torna ainda mais marcante. Os cristais de gelo espalham os raios em diferentes direções, criando um verdadeiro espetáculo cromático. O resultado é um entardecer vibrante, pintado naturalmente no céu.
A atmosfera nesses dias esteve marcada pela atuação de um fenômeno meteorológico conhecido como baixa segregada ou fria, ou cut-off low. Trata-se de um vórtice ciclônico em médios e altos níveis que favorece a formação de nuvens altas.
Esse tipo de sistema costuma isolar-se das correntes atmosféricas principais. Com isso, mantém o ambiente propício para o desenvolvimento contínuo de nuvens Cirrus, que servem como tela para a projeção das cores do sol.
No Rio Grande do Sul, a combinação entre a nebulosidade da baixa segregada e a posição do sol ao entardecer criou as condições ideais para os céus coloridos. Em Porto Alegre e diversas cidades do interior, o cenário encantou moradores ontem e hoje.
Além da beleza estética, o fenômeno desperta interesse científico. Nós meteorologistas observamos como a interação entre sistemas de grande escala e microprocessos nas nuvens pode intensificar efeitos óticos, revelando a complexidade da atmosfera e sua capacidade de produzir espetáculos naturais.
IMAGEM | Fim de tarde desta segunda-feira em Soledade, no Norte do Rio Grande do Sul, com nuvens altas proporcionando um incrível entardecer colorado. Entenda as nuvens altas de hoje em https://t.co/RTNxfV0wao. 📷 @PHPSoledade pic.twitter.com/AzrflKTMS2
— MetSul.com (@metsul) August 25, 2025
IMAGEM | Belíssimo entardecer de hoje no Parque Farroupilha (Redenção), em Porto Alegre, com nebulosidade alta realçando as cores do fim de tarde em Porto Alegre. 📷 @vlela pic.twitter.com/BlpeicKxOO
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IMAGEM | O belíssimo entardecer de hoje em Osório com o Morro da Borússia sob um céu colorido. 📷 Mariana Ost pic.twitter.com/qKRJuUxqfB
— MetSul.com (@metsul) August 26, 2025
As cores também variam conforme a quantidade e espessura das nuvens. Cirrus mais finos resultam em matizes suaves e delicados, enquanto formações mais espessas ou em maior número produzem tonalidades mais fortes, com contrastes mais intensos no horizonte.
Outro fator que contribui é a umidade presente em níveis altos. Com mais vapor d’água disponível, a formação de cristais de gelo é favorecida, ampliando a cobertura de nuvens. Assim, o entardecer ganha cores mais duradouras e um espetáculo prolongado.
Para muitos, esses finais de tarde são uma oportunidade de contemplação. Redes sociais ficaram repletas de fotos, com usuários descrevendo os céus como “pinturas vivas” ou “quadros naturais”. A experiência visual transformou-se em momento de conexão coletiva com a natureza.
Há também um aspecto cultural nesse tipo de fenômeno. Os gaúchos valorizam muito os céus do pampa, das serras e do litoral. O entardecer colorido reforça a identidade regional, marcado pela relação afetiva com a paisagem natural.
Céu na orla do Guaíba ontem em Porto Alegre | VINICIUS XIMENDES
É importante destacar que nem todos os entardeceres oferecem essa intensidade de cores. A presença de poluentes ou fumaça, por exemplo, pode alterar os tons, assim como a ausência de nuvens altas, que reduz os contrastes e suaviza o efeito.
Nos últimos dias, contudo, o cenário foi praticamente ideal. Atmosfera limpa, umidade favorável, baixa segregada e abundância de Cirrus criaram um conjunto raro de fatores. O resultado foi um espetáculo digno de contemplação, difícil de passar despercebido.
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