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Modelos numéricos de previsão do tempo projetam para a virada do mês e o começo de setembro a formação de um centro de alta pressão de incomum intensidade no Atlântico Sul com marcas de  1045 hPa a  1050 hPa. Os valores raros são considerados muitíssimo elevados e chamam a atenção de nós meteorologistas pela grande intensidade.

Modelo meteorológico canadense indica centro de alta pressão de 1050 hPa no primeiro dia de setembro no Atlântico Sul | METSUL

Embora sistemas de alta pressão sejam comuns, alcançar essa força é bastante raro na nossa região. Por isso, foge ao que normalmente se observa na área oceânica Sul do Atlântico, entre a América do Sul e a África.

Um centro de alta pressão, também chamado de anticiclone, é uma área da atmosfera onde o ar é mais denso e pesado. Esse ar desce em direção à superfície (subsidência) e se espalha, o que reduz a formação de nuvens.

Como consequência, a subsidência deixa o tempo mais estável e seco. Por isso, sistemas de alta pressão estão geralmente associados a períodos de sol, noites frias de céu limpo e pouca chuva em terra firme.

O que torna o fenômeno agora incomum é a intensidade. Valores de 1050 hPa são mais típicos de regiões frias próximas ao polo, especialmente no Hemisfério Norte, onde massas de ar geladas são mais densas.

No Atlântico Sul, as altas pressões que estamos acostumados a ver costumam variar entre 1015 hPa e 1030 hPa, às vezes chegando a 1035 hPa. Ultrapassar 1040 hPa já é algo raro, e valores de 1045 hPa a 1050 hPa ou valores mesmo ao redor de 1050 hPa se torna algo excepcional.

Apesar de ser um fenômeno meteorológico natural, centros de alta pressão de tamanha intensidade são observados poucas vezes em décadas no Atlântico Sul.

O episódio reforça como os contrastes de pressão atmosférica podem ser determinantes para o clima da América do Sul, explicando desde períodos de tempo firme até ondas de frio e de calor.

A formação de um anticiclone tão forte no Atlântico Sul terá reflexos diretos no clima do Cone Sul da América ao redor da virada do mês, especialmente considerando que um ciclone deve se formar na Argentina.

O enorme gradiente de pressão entre o ciclone na Argentina e a alta pressão no Atlântico deve provoca vento forte numa extensa área do Atlântico Sul e afetar áreas do Leste da Argentina, Uruguai e Leste do Rio Grande do Sul com vento forte no começo da semana que vem, mas por ora as rajadas não devem ser tão intensas quanto nos últimos dois episódios de vento forte. O ciclone pode trazer ainda chuva em parte do Rio Grande do Sul.

Modelo meteorológico europeu indica centro de alta pressão de 1046 hPa no primeiro dia de setembro no Atlântico Sul | METSUL

Modelo meteorológico britânico indica centro de alta pressão de 1046 hPa no primeiro dia de setembro no Atlântico Sul | METSUL

Modelo meteorológico norte-americano GFS indica centro de alta pressão de 1050 hPa no primeiro dia de setembro no Atlântico Sul | METSUL

Como é um dado que foge da curva e excepcional, será preciso verificar nos próximos dias se as simulações computadorizadas vão manter em suas projeções valores de pressão atmosférica tão atipicamente elevados ou vão reduzir para marcas menos extremas e mais próximas do que se está acostumada a ver.

Alta pressão incomum trará frio?

Quando se fala em um grande e intenso centro de alta pressão sobre o continente na América do Sul (este estará sobre o mar), costuma haver uma incursão de a frio bastante significativa com baixas temperaturas. Isso, então, significa que vem muito frio?

Não! Os mesmos modelos numéricos que apontam a pressão atmosférica anômala e rara no Atlântico Sul indicam temperatura acima a muito acima da média na área sob a influência da pressão elevada.

Temperatura estará muito acima da média no Atlântico Sul no começo de setembro | METSUL

As projeções computadorizadas apontam para o começo de setembro uma massa de ar frio no Pacífico Sul e que deve afetar com baixas temperaturas e neve áreas meridionais do Chile, na região de Magalhães.

Centros de alta pressão muito intensos são mais comuns no Hemisfério Norte

A pressão média ao nível do mar é de 1013 hPa.  Hoje, em Porto Alegre, a pressão está em 1027 hPa, portanto alta. Um anticiclone polar de 1050 hPa ou acima de 1045 hPa é, assim, muito intenso. Nada de incomum para regiões frias do Hemisfério Norte, mas raro no Atlântico Sul.

Por quê? Os centros de alta pressão são geralmente mais intensos no Hemisfério Norte porque há muito mais áreas continentais do que no Sul, dominado por oceanos. Sobre grandes massas de terra, especialmente no inverno, o ar resfria de forma intensa, tornando-se mais denso e aumentando a pressão atmosférica, o que gera anticiclones muito fortes, como os da Sibéria, que podem ultrapassar 1060 hPa.

Já no Hemisfério Sul, o predomínio oceânico reduz a amplitude térmica e limita a intensidade das altas pressões. Além disso, o ar frio da Antártica fica mais confinado, impedindo formações anticiclônicas tão extremas quanto no Norte.

Recordes mundiais de alta pressão

Às 12UTC, 9h de Brasília, em 31 de dezembro de 1968, a pressão no centro de um imenso anticiclone sobre a Sibéria chegou a impressionantes a 1083,8 hPa em Ágata, na Rússia. A marca foi autenticada pela Organização Meteorológica Mundial como recorde mundial de pressão atmosférica mais alta já registrada no planeta em altitudes inferiores a 750 metros.

Sete estações meteorológicas registraram pressões superiores a 1.070 hPa, indicando que a pressão registrada em Ágata estava de acordo com a situação geral da área. Este recorde foi reavaliado em 2012 após um evento de alta pressão em 2001 na Mongólia.

Como resultado dessa investigação, a categoria de “pressão de superfície mais alta” foi reestruturada em duas classificações distintas: acima de 750 metros e abaixo de 750 metros.

Por causa dos vieses potenciais (por exemplo, suposições de taxa de lapso padrão) associados às reduções do nível do mar de elevações acima de 750 metros, foi a opinião da Comissão de Climatologia da OMM que os registros para pressão ajustada do nível do mar fossem segregados entre as estações acima de 750 metros e aqueles abaixo de 750 metros seguindo as diretrizes estabelecidas da OMM para cálculos de redução ao nível do mar.

O recorde de pressão atmosférica ajustada ao nível do mar em altitudes acima de 750 metros autenticado pela OMM se deu em 30 de dezembro de 2004 em Tosontengel, na Mongólia, onde o barômetro apontou 1.089,1 hPa. A estação está a 1.724,6 metros acima do nível do mar.

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