A cidade de Buenos Aires deve ter hoje calor com intensidade vista apenas uma vez em toda a sua história. A previsão do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina (SMN) para a capital federal é de impressionantes 42ºC.

A marca, se atingida, vai superar a máxima histórica da terça (11/1/2022) de 41,1ºC que foi a primeira máxima de 40ºC no Observatório Central de Villa Ortúzar desde 1995 e a segunda marca mais alta de toda a série observacional da capital argentina que se iniciou em 1905.

A onda de calor atinge seu ápice hoje no Uruguai e Argentina. O calor será extraordinário no Centro argentino com múltiplos recordes, levando o sistema elétrico ao limite com apagões. No Uruguai, que teve a maior máxima ontem no país desde 1961 com 42,5ºC em Salto, o que bateu o recorde de 42,2ºC de janeiro de 1985 de 42,2ºC também em Salto, o calor nesta sexta também será histórico com quebra de recordes e máximas em alguns departamentos de 42ºC a 44ºC.

Será uma sexta-feira diferente na capital argentina. Temperatura como a de hoje é excepcional e muito raramente ocorre. Não precisa sequer a temperatura atingir os 42ºC previstos pelos meteorologistas do Serviço Meteorológico Nacional para que seja um dia raro e histórico. Basta que a máxima da terça de 41,1ºC seja superada para que a cidade de Buenos Aires tenha a segunda mais alta temperatura da sua história em 117 anos de observações.

Calor no patamar indicado hoje na cidade de Buenos Aires foge completamente ao normal. Na estatística histórica desde 1905 foram raras as ocasiões em que a temperatura superou 40ºC nas medições oficiais. O recorde é de 43,3ºC em 29/1/1957. Depois, os registros na casa de 40ºC em janeiro são poucos. Fez 41,1ºC em 11/1/2022; 40,5ºC em 31/1/19435; 40,3ºC em 18/1/1943 e 40,0ºC em 24/1/1923.

O dia 29 de janeiro de 1957, o mais quente de Buenos Aires até hoje, está guardando ainda na memória dos moradores mais antigos e guardados para a posteridade nas páginas dos jornais da época e do Arquivo Nacional da Argentina. Foi dia que os portenhos sofreram como nunca com a temperatura. Não havia portais de internet ou redes sociais, e os documentos do calor da época são escritos ou de noticiários exibidos em cinemas que descreviam “os termômetros enloquecidos”.

As reportagens nos diários eram muitos menos extensas e ilustradas que nos tempos atuais, mas o calor recorde acabou recebendo grande destaque para a época. “Em cem anos não se registrava a marca de ontem: 43,3°C”, o jornal La Nación intitulou o artigo em que relatava o “dia tórrido” que viveu o povo de Buenos Aires. Já o Clarín descreveu-o como “um dia sufocante”.

Os 43,3ºC foram registrados pelo Serviço Meteorológico Nacional na medição das 15h do dia 29 de janeiro de 1957 e, a partir de então, a temperatura começou a cair. O céu passou a nublado na capital argentina e a cidade de Buenos Aires amanheceu com agradáveis 16ºC na manhã seguinte, o que não ocorrerá agora. A previsão é de temperatura acima de 30ºC hoje à noite e em parte da madrugada de amanhã na cidade de Buenos Aires que pode ter a mais alta mínima da sua história neste sábado.

A onda de calor que levou ao recorde na terça-feira, 29 de janeiro de 1957, começou três dias antes, no domingo. Os dias que antecederam o recorde também foram escaldantes, apesar de máximas menos extremas e que ficaram perto de 40ºC. No começo da manhã do dia do recorde absoluto de máxima fazia 28,2ºC. Hoje, às seis da manhã, Buenos Aires tinha 26,6ºC.

Buenos Aires era uma cidade muito diferente dos dias atuais em 1957 com homens e mulheres em trajes elegantes pelas ruas, muitos cafés, prédios de menor altura, muito menos carros e poluição, e com as águas do Rio da Prata límpidas. Foi o que levou uma multidão a tomar banho no Balneário Municipal da Costanera Sur e no Balneário de Nuñez. Quem ficou na city preferiu os chafarizes e fontes das belas praças e parques da capital argentina, ainda mais lindos à época.

Quem podia virava gelo na cabeça ou pelo corpo para se refrescar do calor extraordinário e recorde de 43,3ºC, afinal ar-condicionado em 1957 era uma raridade. Poucos tinhas. Algumas empresas e indústrias que necessitavam para sua produção, além de poucas casas de pessoas mais abastadas. Eram os casos dos apartamentos do edifício Kavanagh que em 1934 se tornou o primeiro da América Latina a ser equipado com aparelhos de ar-condicionado.