Cuiabá está acostumada ao intenso calor, mas o que modelos numéricos de previsão do tempo para os próximos dias fogem ao comum na capital do Mato Grosso. A máxima oficial na estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia na quarta-feira chegou aos 42,6ºC e a tendência é de elevação ainda maior da temperatura que pode bater o recorde histórico de calor da cidade.
Em uma primavera muito quente com temperatura bastante acima do normal, que teve o setembro mais quente já registrado tanto no Brasil como na América do Sul, Cuiabá tem enfrentado uma alta frequência de tardes escaldantes com máximas ao redor e acima de 40°C desde o começo do mês de setembro.
O calor ser intenso nesta época do ano é o esperado, uma vez que as maiores médias mensais histórica de temperatura máxima ocorrem no trimestre de agosto, setembro e outubro, ou seja, no fim da estação seca na região.
As normais históricas do Instituto Nacional de Meteorologia da série 1991-2020 indicam que o mês mais quente costuma ser setembro com média mensal máxima de 35,6°C, seguido de outubro com 35,1ºC e agosto com 34,7°C.
Segundo levantamento da MetSul Meteorologia, com base em dados da estação oficial do órgão federal, no mês de setembro foram 17 dias com ocorrências de máximas de 40°C ou mais. Agora, em outubro, a máxima já bateu os 40°C em oito dias.
Somando os registros de temperatura de setembro e outubro até agora são 25 dias em que a temperatura ficou ao redor de 40°C, ou seja, a metade. No período, a temperatura mais alta anotada foi de 42,6ºC, no dia de ontem (18/10). Em setembro, a maior marca foi de 42,0°C, registrada no dia 25 de setembro.
O calor acentuando e mais persistente em parte é resultado da estiagem sazonal da região que tem como consequência também os baixos índices de umidade relativa do ar. No mês de setembro, segundo medição diária do Instituto Nacional de Meteorologia, na esmagadora maioria dos dias a umidade mínima ficou ao redor e abaixo de 20%.
Em outubro, em geral, até agora, a umidade relativa do ar mínima vem oscilando entre 20 e 30% durante a tarde, com os menores índices registrados nos últimos dias que tiveram umidade inferior a 20%, coincidindo com o calor muito intenso que aumenta a cada dia.
Outro fator para o setembro e outubro tórridos deste ano é a mudança no padrão geral de circulação da atmosfera associada ao fenômeno El Niño que traz chuva extrema no Sul e seca histórica na Amazônia. No Centro do Brasil, a mudança se faz sentir com o calor muito acima do normal.
Em comparação, no mês período do ano passado, entre 1° de setembro e 18 de outubro, observou-se que setembro registrou apenas 4 dias em que a máxima ficou igual ou acima de 40°C no município de Cuiabá. Em contrapartida, no mês de outubro do ano passado não houve registro de máxima de 40°C ou mais na cidade. Em 2022, o fenômeno que atuava no Pacífico era a La Niña.
Há um terceiro fator que deve ser levado em consideração. O planeta está enfrentando em 2023 um aquecimento acelerado e desde julho todos os meses são de temperatura recorde na Terra. Setembro de 2023 foi 0,5ºC mais quente no mundo que o setembro mais quente até então no planeta, uma margem que espantou os cientistas.
Dias atrás, estudo de atribuição climática rápida da World Weather Attribution (WWA) apontou que as ondas de calor de agosto e setembro na América do Sul, e que foram seguidas em Cuiabá e outras áreas do Brasil, se tornaram cem vezes mais provável com as mudanças climáticas. O trabalho foi liderado por pesquisadores do Brasil, Argentina, Holanda, Estados Unidos e Reino Unido.
O calor que se espera para os próximos dias em Cuiabá é espantosamente intenso. A previsão da MetSul Meteorologia é de máximas na cidade entre 41ºC e 43ºC nesta quinta, 42ºC a 44ºC na sexta, 43ºC a 45ºC no sábado, 43ºC a 45ºC no domingo, 41ºC a 43ºC na segunda-feira e 42ºC a 44ºC na terça.
Com possibilidade de marcas tão altas quanto 43ºC a 45ºC entre o final desta semana e o começo da semana que vem, existe a possibilidade de Cuiabá quebrar o seu recorde histórico de máxima. O recorde oficial de calor na capital do Mato Grosso, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, é de 44,0ºC. A marca foi observada em 30 de setembro de 2020 numa enorme onda de calor que castigou vários países da América do Sul.