Noroeste gaúcho e Oeste Catarinense experimentaram uma tarde de sábado escaldante | Mário Andrade/Arquivo

O Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram condições do tempo radicalmente distintas neste sábado entre as suas áreas mais a Leste e o Oeste dos dois estados com calor extremo, sol, chuva e ventania. Consequência de sistemas meteorológicos distintos sobre o continente e o Oceano Atlântico.

O sábado foi escaldante em municípios mais a Oeste do Sul do Brasil. Em Santa Catarina, os termômetros indicaram 39,9ºC em Caibi, 38,8ºC em Itapiranga, 36,2ºC em Águas Frias, 36,0ºC em Maravilha, 34,4ºC em Seara e 34,0ºC em Anchieta, de acordo com dados do Ciram.

No Rio Grande do Sul, as máximas alcançaram 39,9ºC em Santa Rosa, 39,3ºC em Alpestre, 38,7ºC em Porto Xavier, 36.5ºC em São Luiz Gonzaga, 36,4ºC em São Borja, 36,1ºC em Santo Augusto e Cerro Largo, 36,0ºC em Frederico Westphalen, 34,8ºC em Santiago, 33,9ºC em Uruguaiana, 33,8ºC em Ibirubá e 33,5ºC em Palmeira das Missões.


Se as áreas mais a Oeste experimentaram uma tarde de sábado tórrida com quase 40ºC em alguns pontos, mais a Leste da região Sul a realidade foi muito distinta. Em Porto Alegre, no Jardim Botânico, não fez mais que 26,1ºC, máxima abaixo da média máxima histórica mensal na capital gaúcha de 29,5ºC.

Na costa gaúcha, Tramandaí teve apenas 24,3ºC de máxima e Rio Grande foi a 24,8ºC. Já em Santa Catarina, os termômetros não marcaram mais que 25ºC na maioria das cidades perto da costa ou junto à orla na tarde deste sábado com registros de máximas, por exemplo, de 19,5ºC em Rancho Queimado, 23,4ºC em Sombrio e 24,9ºC em Imbituba.

Tempo fechado, instável e com temperatura baixa em Garopaba | Guilherme Mariani

Enquanto o tempo estava muito aberto no Oeste com sol forte que favoreceu o aquecimento intenso, municípios do Sul e do Leste catarinense enfrentaram um sábado de muitas nuvens com precipitação de chuva leve e garoa em vários momentos do dia. As áreas de Praia Grande e Joinville tiveram chuva mais expressiva com até 20 mm ou mais em algumas estações.


O céu teve muitas nuvens ainda no Leste do Rio Grande do Sul e até o meio da tarde Porto Alegre registrou céu nublado a encoberto por muitas nuvens baixas que depois deram lugar a um belo fim de tarde de sol. Vários outros pontos do Centro do Estado para as lagoas e o Litoral Norte gaúcho também anotaram momentos de abundante nebulosidade.

A explicação para a brutal diferença entre o Oeste e o Leste está na análise sinótica. Observa-se que uma frente fria atua na costa do Sudeste do Brasil. Na retaguarda deste sistema há ar mais frio sobre o oceano associado a um centro de alta pressão a Sudeste do Rio Grande do Sul. Por outro lado, centros de baixa pressão térmicos – associados ao calor – estão sobre a Argentina e o Paraguai.

O que ocorre? O Oeste do Sul do Brasil ficou exposto ao ar muito quente no Nordeste da Argentina e do território paraguaio e o Leste do Sul do Brasil ao ar mais frio sobre o oceano. As correntes de vento mais frio e úmido vindas do mar ao encontrar o ar mais quente no continente geraram as nuvens no Leste dos três estados do Sul. No caso de Santa Catarina e do Paraná, como toda a faixa costeira tem a barreira do relevo da Serra do Mar perto do litoral, o dia teve tempo fechado e precipitação.


Este contaste térmico ainda deixou o dia ventoso no Leste da região. No Aeroporto de Porto Alegre, as rajadas de vento durante a tarde chegaram a 63 km/h. O vento soprou moderado e com ocasionais rajadas do quadrante Leste ainda em vários pontos do Centro, Sul e do Leste gaúcho.

As massas de ar frio seguem avançando para as latitudes médias do continente mesmo nesta época do ano, mas, diferentemente da estação fria em que as incursões de ar polar são de trajetória continental, logo pelo interior do continente, as trajetórias das massas de ar frio são marítimas.

Ao mesmo tempo que ar frio avança pelo Atlântico Sul, ar mais quente se instala no continente com áreas de baixa pressão que costumam atuar no Norte da Argentina e no Paraguai, centros de baixa pressão, diga-se aliás, de natureza térmica. Por isso, o calor é mais intenso nas médias climatológicas em cidades mais a Oeste do Sul do Brasil.

Com efeito, estabelece-se um contraste de temperatura e pressão entre o Oceano Atlântico e o continente. Sobre o mar, ar mais frio e de maior pressão atmosférica. Sobre o continente, ar mais quente e de menor pressão atmosférica.

Aí entra a Física para explicar o vento. Sabe-se que a temperatura se eleva durante o dia mais rapidamente sobre terra do que sobre água. E que à noite ocorre o contrário com resfriamento maior sobre terra do que sobre água. À medida que a temperatura se eleva com o sol durante o dia, a diferença de temperatura entre o mar e o continente aumenta.

Áreas sobre terra ficam com temperatura muito maior que sobre o oceano. Na sequência, o ar de menor temperatura (mais denso) começa a se deslocar para o ambiente em que a o ar está mais quente (e mais leve). Esse deslocamento de ar, do mar para terra, traz o vento. Por isso, ele sopra do quadrante Leste. É vento que vem do mar para terra, o que os surfistas denominam de vento maral, logo vem do quadrante Leste.