Anúncios

Brasil nunca teve um julho tão quente em ao menos setenta anos em meio a um período de superaquecimento planetário e julho de temperatura recorde alta também no mundo | MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL/EBC

Julho foi o mês mais quente registrado no Brasil desde 1961, informou nesta sexta-feira em Brasília o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A MetSul Meteorologia esclarece que o mês passado pode ter sido o mais quente em um período ainda maior, uma vez que o órgão federal utiliza para o levantamento a série histórica de dados 1961-2023. Assim, não significa que em 1961 tenha feito um julho mais quente que em 2023.

INMET

No mês passado, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura média do Brasil ficou 1,04°C acima da média histórica. Em julho, que marca o auge do inverno, é comum que na Região Sul e em áreas serranas do Sudeste predominem os valores de temperatura média entre 12°C e 20°C.

Neste ano, entretanto, as temperaturas na região foram superiores e ficaram entre 12°C e 24°C. Houve uma predominância de desvios positivos de temperatura média em grande parte do Brasil, registrando valores de até 3°C acima da média, desde o Sul da Região Norte, passando pelo Centro-Oeste, até a Região Sul.

Tomando como base a média histórica (1991 – 2020) das temperaturas médias observadas nas estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em todo o Brasil, no mês de julho, a temperatura média do Brasil seria 21,93°C.

Ocorre que em 2023 a temperatura média mensal acabou em 22,97°C, logo um desvio de 1,04°C acima da média histórica, colocando o recente julho como o mais quente já registrado no Brasil desde 1961. Até então, julho de 2022 era o mais quente com 22,77°C ou 0,84°C acima da média.

INMET

Já o terceiro e o quarto julhos mais quentes do Brasil, desde 1961, ocorreram nos anos de 2015 e 2016, respectivamente. Nesses anos foram observados valores de 0,8°C (2015) e 0,6°C (2016) acima da média histórica. Tanto 2015 como 2016 estiveram sob a influência do fenômeno El Niño, como se dá em 2023.

Embora tenha feito frio em alguns dias de julho, as temperaturas baixas ocorreram por um curto período. Foram duas incursões de massas de ar frio que causaram declínio das temperaturas mínimas e geadas, mas, como observa o órgão federal, as massas de ar frio foram insuficientes para compensar os muitos dias de temperatura acima da média que resultaram no mês quente.

O julho muito quente no Brasil acompanha uma tendência mundial. Grande número de países do mundo teve o julho mais quente já registrado, assim como se deu no Brasil. Houve no último mês um superaquecimento oceânico em diversas bacias e ondas de calor extremo em várias partes do globo. A Antártida, ademais, teve enormes anomalias positivas de temperatura.

Julho, no planeta, foi o mês mais quente já registrado e por uma imensa margem, o que espantou a comunidade científica pelo aquecimento acelerado observado. Alguns especialistas acreditam que julho pode ter sido o mês mais quente dos últimos 120.000 anos no planeta.

ZEKE HAUSFATHER/BERKELEY EARTH

Os cientistas concordam que o aquecimento está principalmente ligado ao uso de combustível fóssil, mas citam causas também naturais. Eles não estão surpresos com o fato de julho ter sido tão quente. O dia mais quente já observado no mundo ocorreu em 6 de julho, e os 23 dias mais quentes já registrados foram no mês passado, de acordo com o Copernicus Climate Change Service.

Os pesquisadores calculam a temperatura do ar global fazendo leituras de estações meteorológicas espalhadas pelo mundo. No entanto, não há estações suficientes para fornecer uma imagem global completamente precisa, então os cientistas alimentam todas essas leituras, além de algumas medições da própria atmosfera, em modelos de computador. Isso permite que os cientistas criem um “mapa sem lacunas”, o que significa que a temperatura global pode ser estimada com segurança.

Embora julho tenha sido o mais quente em registros por termômetros que datam de cerca de 150 anos, alguns pesquisadores acreditam que a temperatura foi a mais alta em dezenas de milhares de anos. Para descobrir esses números antigos, os cientistas usam registros como o ar preso em núcleos de gelo polar ou sedimentos no oceano profundo. Estes captam um sinal do clima na época.

A partir dessas evidências, embora os cientistas não consigam identificar meses específicos tão distantes, eles dizem que a última vez que o mundo esteve tão quente foi há cerca de 120.000 anos, quando o nível do mar estava cerca de 8 metros mais alto.

Os pesquisadores estão certos que as emissões de combustíveis fósseis das atividades humanas são as principais responsáveis pelos níveis de aquecimento que estamos vendo agora. “O clima extremo que afetou muitos milhões de pessoas em julho é, infelizmente, a dura realidade da mudança climática e uma amostra do futuro”, disse o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Prof. Petteri Taalas.