A Red Eléctrica de España (REE), operador de energia da Espanha, descartou hoje que ciberataques ou eventos meteorológicos como causa do blecaute que deixou mais de 50 milhões de pessoas às escuras ontem no país e em Portugal.

FERMIN RODRIGUEZ/NURPHOTO/AFP/METSUL
A suspeita maior recai sobre uma falha interna no sistema elétrico. Duas desconexões consecutivas de usinas no Sudoeste da Espanha causaram um colapso total do sistema elétrico nacional espanhol, derrubando a energia também em Portugal e brevemente no Sul da França.
O problema estaria ligado à energia solar. A grande entrada de energia de origem fotovoltaica (do sol) nas horas centrais do dia está desestabilizando a rede, avaliam técnicos espanhóis. Na hora do apagão, a solar gerava 70% da demanda nacional.
Entre 17 GW e 18 GW estavam sendo produzidos. Cerca de 15 GW saíram do sistema em apenas cinco segundos, o que levou ao colapso do sistema elétrico espanhol.
A REE já havia alertado para o risco. Em fevereiro, comunicou à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) o perigo de “desconexões” devido ao excesso de renováveis.
O aviso foi incluído no relatório anual da empresa, conforme manda a lei para companhias cotadas em bolsa. O relatório destaca outro ponto preocupante. O fechamento de centrais térmicas e nucleares está reduzindo a chamada “potência firme” do sistema. Isso afeta o equilíbrio, a inércia e a robustez da rede. Consequência: aumenta o risco de incidentes operacionais.
Para entender. No caso das energias renováveis, a geração flutua significativamente. No caso da eólica, varia conforme o vento. Na solar, a geração é maior nas horas centrais do dia, quando há mais luz solar.
Em fevereiro, a presidente da operadora elétrica espanhola Beatriz Corredor negava riscos de apagão. Disse que o sistema era estável e seguro. Em abril, um tuíte oficial reafirmou a garantia de fornecimento. Semanas depois, o apagão expôs a instabilidade.
O apagão começou às 12h33, hora local da segunda-feira, segundo o governo. Foi quando houve uma desconexão brusca da produção solar. A empresa Repsol alertou dias antes sobre um grande problema de fornecimento. A falha parou sua refinaria de Cartagena.
Especialistas do setor já circulavam trechos do relatório da REE em grupos de WhatsApp. Destacavam os avisos sobre riscos iminentes. Atualmente, técnicos investigam uma possível queda em cadeia das plantas solares.
A REE está analisando a sequência dos eventos. O objetivo é entender por que tantas usinas se desconectaram tão rápido. E por que o sistema não conseguiu absorver o impacto.
A crise revela os desafios da transição energética. A alta penetração de renováveis exige mudanças na gestão da rede. O sistema precisa de respaldo para manter a estabilidade. Fontes intermitentes, como a solar, não garantem energia firme. A REE enfrenta agora pressão institucional e do mercado. Precisa explicar por que, mesmo com os alertas internos, não preveniu o colapso.
Especialistas alertam que o mesmo pode ocorrer no Brasil. O excesso de produção de energia solar e eólica no país traz o risco de apagões também na rede brasileira. O alerta foi dado pelo Operador do Nacional Elétrico, que associa a possibilidade de apagão nos próximos cinco anos ao crescimento de painéis solares em casas e comércios.
Os estados que podem ser afetados são Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí.
O ONS, responsável pela coordenação e controle da transmissão de energia no Brasil, informou que as subestações estão sendo mapeadas e que tem adotado medidas de prevenção para evitar fenômenos elétricos que possam comprometer a segurança do sistema.
Relatório do Operador Nacional dos Sistema Elétrico (ONS) indica que o crescimento de geração de energia por meio de painel solar traz riscos efetivos de sobrecarga em nove Estados no país. A possibilidade, segundo o documento publicado pelo jornal O Globo em fevereiro deste ano, ocorre para o período dos próximos cinco anos.
“Tem um momento do dia em que você tem uma geração que ela é produzida no Nordeste e vem para o Sudeste. E depois outra parte do dia é o Sudeste que manda para o nordeste. É o fluxo reverso. Só que nem sempre você consegue atender plenamente as cargas e isso pode dar uma sobrecarga no sistema que afeta a proteção dele”, disse o especialista em energia elétrica Raimundo Batista Neto à Rede Bandeirantes.
Em 2023, todos os estados do país, com exceção de Roraima, sofreram um apagão total ou parcial, devido à intermitência da energia solar e eólica. Segundo o ONS, os painéis solares em residências e comércios e as usinas solares tipo 3 representam mais 22% da capacidade do país. As usinas deste tipo são estruturas mais complexas e descentralizadas, com um total de capacidade instalada de 53 GW.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontou que a principal causa para o apagão de 2023 foi uma falha no desempenho de equipamentos de parques eólicos e solares, localizados próximos à linha de transmissão Quixadá – Fortaleza II, no Ceará. Na ocasião, cerca de 29 milhões de brasileiros em quase todo o país ficaram sem energia.
“A análise da perturbação permitiu constatar que o desempenho dos controles em campo, de usinas eólicas e solares, em especial no que tange à capacidade de suporte dinâmico de potência reativa, foi muito aquém dos modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e representados na base de dados oficial de transitórios eletromecânicos”, disse o relatório do ONS divulgado à época.
Um dos efeitos preocupantes da energia gerada de forma descentralizada é o chamado “fluxo reverso” de energia. Em vez de a energia fluir da transmissora para a distribuidora, o excesso de energia faz o caminho inverso, passando da distribuidora para o sistema de transmissão. É esse fenômeno que gera, por exemplo, o risco de sobrecarga no sistema, o que pode resultar em desligamento do sistema de transmissão por excesso de carga elétrica.
Após o relatório ter sido publicado pelo jornal O Globo sobre a ameça nos próximos cinco anos de um apagão pelas energia renováveis, o ONS emitiu uma nota à imprensa destacando que “o Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do SIN (PAR/PEL) não aponta risco iminente de apagão no Brasil”. “O documento, produzido anualmente, apresenta avaliações do desempenho elétrico do Sistema Interligado Nacional (SIN) num horizonte de cinco anos à frente, de modo que a operação futura ocorra com qualidade e equilíbrio entre segurança e custo”, enfatiza a nota.
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