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O verão começa oficialmente pelo critério astronômico neste sábado (21) e o ano está quase no fim, mas não houve até o momento a declaração de um evento de La Niña pela agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos, a NOAA. O quadro, ao menos oficialmente, permanece de neutralidade que é também conhecido informalmente na comunidade de clima como La Nada.

NOAA

Os últimos dias, entretanto, trouxeram dados novos que são muito importantes quanto ao comportamento do Oceano Pacífico Equatorial e como as condições do oceano e da atmosfera podem impactar o clima do verão: o oceano se resfriou mais e a atmosfera apresenta sinais de La Niña.

O fenômeno La Niña se caracteriza como um padrão acoplado entre o oceano e a atmosfera no Oceano Pacífico tropical. Para que as condições de La Niña sejam caracterizadas, é necessário observar águas superficiais no Pacífico tropical pelo menos 0,5 °C mais frias do que a média de longo prazo (média de 1991–2020) e evidências de mudanças na circulação de Walker, que é a circulação atmosférica sobre o Pacífico tropical.

Essas evidências atmosféricas incluem ventos mais fortes nas camadas superiores e próximos à superfície (os ventos alísios), mais chuvas do que o normal sobre a Indonésia e menos chuvas sobre o Pacífico central.

Para que se declare um evento de La Niña é preciso que tanto o oceano quanto a atmosfera mostrem tais mudanças, pois as interações entre eles ajudam a La Niña a se formar e a se estabelecer por vários meses.

Então, são dois critérios – oceano e atmosfera – para a caracterização de um evento de La Niña? Mas como estão estes parâmetros objetivos nos dias atuais?

Hoje, de acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4) está em -0,6ºC. O valor está no limite inferior da faixa de La Niña fraco (-0,5ºC a -0,9ºC), praticamente no limite da neutralidade.

NOAA

A anomalia de -0,6ºC foi a menor até agora observada neste ano nesta região do Pacífico Equatorial designada para verificar se há El Niño ou La Niña. Mas, embora esteja em patamar de La Niña, as semanas anteriores estavam solidamente em neutralidade. O ponto: não é apenas uma semana apenas com anomalia de La Niña que permite se se afirmar que há La Niña, mas uma média de várias semanas.

Nesse sentido, a anomalia média de temperatura da superfície do mar na região designada para identificar se há El Niño, neutralidade ou La Niña no Pacífico Equatorial Centro-Leste foi de -0,32ºC nas últimas quatro semanas, ou seja, em patamar neutro.

NOAA

Por outro lado, se as condições oceânicas pelos critérios atuais da NOAA ainda não autorizam a se falar em La Niña, os dados da atmosfera mostram um padrão que é típico de eventos de La Niña. Nas últimas semanas, os ventos alísios estavam mais fortes do que a média, os ventos em níveis superiores também estavam mais intensos, e o Pacífico tropical foi muito menos chuvoso do que o normal, o que se vê normalmente com Niña.

Portanto, a condição atual do oceano pelo critério da NOAA está em neutralidade enquanto a atmosfera no Pacífico se comporta como se estivesse em padrão da La Niña, o que é extremamente relevante para o clima.

Mas haverá La Niña?

O mais recente boletim mensal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) que calcula as probabilidade de um evento de La Niña não oferecem uma resposta definitiva. São dois cenários para a MetSul Meteorologia: (1) a atmosfera segue em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar abaixo da média e a atmosfera em modo de La Niña; ou (2) um evento de La Niña, entretanto fraco e muito breve.

De acordo com a atualização mensal da NOAA, para o trimestre climatológico de verão, de dezembro a fevereiro, as probabilidades são de 72% de La Niña, 28% de neutralidade e 0% de El Niño. No trimestre de janeiro a março de 2025, as estimativas informadas foram de 63% de La Niña, 37% de neutralidade e 0% de El Niño. Em fevereiro a abril, 51% de La Niña, 49% de neutro e 0% de El Niño.

NWS/NOAA

Já para o trimestre climatológico de outono de 2025, que compreende os meses de março a maio, as estimativas da NOAA são 32% de La Niña, 67% de neutralidade e 1% de El Niño. Para o trimestre abril a junho de 2025, os valores informados foram 29% de La Niña, 66% de neutralidade e 5% de El Niño. Finalmente, no trimestre de maio a julho do próximo ano, 27% de La Niña, 63% de neutralidade e 10% de El Niño.

A tendência é que a anomalia de temperatura da superfície do mar no próximo boletim da NOAA na segunda-feira (22) venha pela segunda semana seguida em patamar de La Niña. Mantendo-se em patamar de -0,5ºC a -0,9ºC por outras duas a três semanas, a nossa percepção é que a NOAA declararia um evento de La Niña no final deste ano ou no começo de janeiro, o que seria inédito por uma declaração tardia jamais vista.

O dado mais relevante, com ou sem declaração de evento de La Niña, é que a atmosfera no Pacifico apresenta um padrão de circulação hoje que corresponde ao fenômeno, mesmo que não esteja declarado oficialmente, o que terá inevitavelmente impactos no clima durante os próximos meses.

Isso pode determinar períodos mais prolongados de chuva irregular e em vários pontos abaixo da média no Sul do Brasil, particularmente no Rio Grande do Sul e em especial no Oeste gaúcho, períodos de chuva acima a muito acima da média em diversas áreas entre o Centro-Oeste e o Sudeste, e aumento da chuva em parte do Nordeste brasileiro, de acordo com a análise da MetSul Meteorologia.

O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil

O fenômeno tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase friaesteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

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