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A tempestade tropical Melissa se formou sobre as águas excepcionalmente quentes do Caribe central e já provoca alertas de furacão para o sul do Haiti e de tempestade tropical para a Jamaica. Na tarde desta terça-feira (21), o sistema estava a cerca de 490 quilômetros ao sul de Porto Príncipe, com ventos sustentados de 85 km/h, movendo-se para oeste-noroeste a 22 km/h. O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) prevê que Melissa alcance força de furacão até o fim de semana.

NHC/NOAA

O principal temor agora é o de chuvas torrenciais e deslizamentos de terra em regiões extremamente vulneráveis, especialmente no Haiti e no sul da República Dominicana. Modelos meteorológicos indicam que algumas áreas da costa sul de Hispaniola podem acumular entre 200 e 300 milímetros de chuva até sexta-feira, com precipitações ainda mais intensas em pontos isolados. Em razão da forte cizalhamento de vento sobre o Atlântico ocidental, Melissa não representa, por enquanto, ameaça para os Estados Unidos.

Melissa é a 13ª tempestade nomeada da temporada de furacões do Atlântico em 2025, atingindo essa marca apenas quatro dias antes da média histórica. O Caribe, tradicional berço de ciclones nesta época do ano, oferece agora condições ideais para o fortalecimento do sistema: mares muito quentes e atmosfera úmida, combinação que favorece a intensificação.

As águas do Caribe estão entre as mais quentes já registradas para o fim de outubro. Segundo análise da pesquisadora Kim Wood, da Universidade do Arizona, a temperatura média da superfície do mar está 0,5°C acima de qualquer outro ano até o momento, com exceção de 2023 e 2024. Um relatório do Climate Central estima que esse nível de aquecimento é de 500 a 800 vezes mais provável em razão das mudanças climáticas provocadas pela ação humana.

O cenário coloca Melissa em um ambiente ideal para crescer. O NHC prevê que a tempestade se mova lentamente próximo ao Haiti, o que pode agravar o risco de inundações. A lentidão de sistemas tropicais sobre terrenos montanhosos costuma multiplicar o volume de chuva, e a deflorestação e a pobreza no Haiti aumentam ainda mais a vulnerabilidade da população.

Os modelos de previsão, porém, ainda divergem sobre o caminho do sistema. O modelo europeu aposta em uma trajetória mais a oeste, mantendo Melissa sobre o Caribe até o início da próxima semana. Já o modelo americano (GFS) sugere uma curva para o norte, em direção a Cuba ou Haiti, mas sem consenso sobre o momento dessa virada. Um modelo de inteligência artificial do Google, que tem apresentado bom desempenho nesta temporada, também prevê uma eventual mudança de direção, mas com grande incerteza sobre o local e o tempo.

Independentemente da rota, o fortalecimento gradual é quase certo. A atmosfera ao redor da tempestade está excepcionalmente úmida, com umidade relativa média prevista para subir de 70% para 80% até quarta-feira. A cizalhamento de vento permanece moderada, e há uma área de alta pressão em altitude que deve favorecer a intensificação. O NHC não prevê rápida explosão de energia, mas há chance de 25% de Melissa ganhar 120 km/h de ventos em 72 horas, o que a colocaria na categoria 3 de furacões.

Furacões tardios e lentos no Caribe têm histórico de tragédias. Em 2016, o furacão Matthew atravessou o Haiti como categoria 4, matando 731 pessoas e causando US$ 16 bilhões em prejuízos. Em 2005, o devastador Wilma quebrou recordes ao se transformar em poucas horas no furacão mais intenso já medido no Atlântico, atingindo o México e a Flórida com ventos de até 280 km/h. Já em 1998, o furacão Mitch, após perder força, ainda despejou até 1.000 milímetros de chuva sobre a América Central, deixando mais de 11 mil mortos e outros tantos desaparecidos.

Esses episódios mostram o potencial destrutivo dos furacões de fim de temporada, que frequentemente se deslocam devagar e atuam sobre regiões montanhosas e vulneráveis. O Haiti, marcado por crises políticas e desastres naturais, pode estar novamente diante de um evento de grandes proporções.

Enquanto a trajetória de Melissa continua incerta, o consenso entre os meteorologistas é que a tempestade ainda vai crescer e trazer muita chuva ao Caribe. As próximas 72 horas serão decisivas para determinar se o sistema seguirá rumo ao oeste, permanecerá quase estacionário sobre o Haiti ou fará a esperada curva para o norte.

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