Temporal atingiu Curitiba e provocou alagamentos na capital paranaense na tarde de ontem | Francisco Mezadri

Eventos localizados de chuva com volumes excepcionalmente altos em curto períodos devem ser esperados em áreas do Sul do Brasil neste começo de semana. Não se trata de chuva intensa generalizada nem persistente e muitas cidades do Sul do país sequer devem ter registro de precipitação entre este domingo e a terça-feira. Serão episódios isolados de chuva, mais da tarde para a noite, gerados pela massa de ar muito quente e a maior disponibilidade de umidade na atmosfera.

Ar quente e umidade são combustíveis para temporais. Quando o primeiro dos ingredientes, no caso o calor, ocorre em excesso, o risco de tempo severo aumenta muito. E não apenas isso. Não apenas cresce a possibilidade de temporais com chuva extrema em curto período ou vendavais como aumenta o risco de as tempestades serem muito fortes.

Foi o que ocorreu ontem em Curitiba. Um temporal durante a tarde trouxe alagamentos em todas as regiões da capital paranaense com transbordamento de rio e destelhamentos por vento em alguns bairros mais ao Sul da cidade. Vários pontos da cidade estavam intransitáveis pelo grande acúmulo de água. A chuva, de acordo com pluviômetros em diferentes pontos de Curitiba, variou entre 30 mm e 50 mm em curto período.

O cenário atmosférico atual e dos próximos dias é extremamente favorável ao registro destes episódios de chuva excessiva em curto período. Por isso, cenas como de ruas inundadas em Curitiba durante a tarde e noite do sábado devem se repetir neste domingo e nesta semana em outras cidades. Curitiba, inclusive, pode voltar a registrar temporais de chuva intensa. Há o risco também em Florianópolis e mesmo em Porto Alegre e região, apesar de o risco ser menor que nas outras capitais do Sul.

Estes temporais, que ocorrem da tarde para a noite, podem despejar quantidades enormes de chuva em pontos localizados com volumes até de 50 mm a 100 mm em apenas uma hora ou duas, o que traz alagamentos e inundações repentinos, transbordamento de rios, córregos e arroios, e ainda outros transtornos para a população.

Insistimos que são ocorrências isoladas e que às vezes atingem apenas parte de um município (bairros ou distritos), o que não permite antecipar muitas horas ou dias antes onde exatamente estes eventos ocorrerão, sendo possível apenas pontuar o risco e indicar quais regiões (área mais ampla) têm possibilidade destes eventos localizados. Não se antecipa chuva forte generalizada e em diversas cidades do Sul do Brasil sequer chove nos próximos três dias.

Observe os volumes previstos de chuva para 72 horas nas duas últimas saídas do modelo WRF da MetSul, disponível ao nosso assinante, nos mapas abaixo. O mapa de cima é da rodada das 12Z de sábado com os totais indicados de chuva até 9h de terça e o inferior é o da saída da 0Z de hoje com os acumulados de chuva previstos até 21h de terça.

Atente para os volumes altíssimos isolados que o modelo prevê do Centro para o Leste de Santa Catarina e o Paraná, além de parte de São Paulo, e ainda para o Sul gaúcho. Note também como os pontos de chuva muito volumosa são bastante isolados, o que sinaliza que ocorrerão por eventos isolados, notadamente por temporais da tarde para a noite.

O Sul do Rio Grande do Sul que será diferente porque terá instabilidade a qualquer hora do dia neste começo de semana pela passagem de várias áreas de instabilidade que avançarão de Oeste para Leste.

Chama atenção também nos mapas como cidades do Noroeste do Rio Grande do Sul e do Oeste de Santa Catarina e do Paraná devem ter pouca ou nenhuma chuva no período. Logo, em muitos municípios destas regiões a chuva não deve chegar e o tempo quente vai seguir sem trégua, piorando ainda mais a estiagem e agravando sobremaneira as perdas no campo pela seca e o calor extremo.

Outro risco associado ao cenário atual de instabilidade imersa numa massa de ar por demais quente é o de vendavais. Não são vendavais generalizados e sim de caráter localizado, na maioria dos casos extremamente isolados, mas que podem ser muito fortes e destrutivos, com casos extremos de downbursts ou mesmo tornados que podem trazer vento muito acima de 100 km/h.

Foi o que ocorreu na sexta à tarde com uma corrente de vento descendente violenta que fez estragos em Quaraí, na tarde do sábado com formações de tornados sobre banhados na área da reserva ecológica do Taim e também na tarde de ontem com vento forte que destelhou casas e derrubou árvores em alguns bairros de Curitiba.