Um forte terremoto no mar ontem de manhã no extremo Sul do Chile e da Argentina fez com que as autoridades ativassem por algumas horas um alerta de tsunami e de evacuação de áreas costeiras pouco povoadas desta região próxima à Antártida.

Placa de advertência de rota de fuga em caso de tsunami na costanera de Punta Arenas, em Magalhães, no Sul do Chile | TOMAS GUTIERREZ/AFP/METSUL
O terremoto foi registrado às 9h58 (mesmo horário em Brasília) no mar, a 218 quilômetros ao Sul da localidade de Puerto Williams (cerca de 2.500 km ao Sul de Santiago), e a dez km de profundidade, segundo o Centro Sismológico Nacional, que faz parte da Universidade do Chile.
Várias localidades tiveram que ser evacuadas por algumas horas de forma preventiva no litoral da região de Magallanes, no Chile, devido a um sismo de magnitude 7,5, de acordo com as autoridades chilenas (7,4 pelo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o USGS).
Uma centena de habitantes de Puerto Almanza, na província argentina de Tierra del Fuego, também foi retirada. “Não dei muita importância até que os alarmes soaram. Houve um pouco de caos porque não é normal sentir estes tremores aqui”, declarou à AFP Shirley Gallego, de 41 anos.
Em Ushuaia, a cidade mais ao Sul da Argentina, também houve temores: “Estava dormindo neste momento e comecei a sentir que a cama se movimentava muito (…) Durou um tempo considerável, alguns minutos, e então fiquei assustada”, contou Sofía Ramonet.
Três atletas argentinos que realizavam uma travessia de caiaque em torno do Cabo Horn, um dos pontos mais ao Sul do continente, tiveram que retornar devido a um alerta de tsunami. Diego Linares, Walter Cayo e Javier Siede não sentiram os tremores e as águas permaneceram calmas, então continuaram até alcançarem o objetivo inicial.
“Estávamos a minutos do Cabo Horn, quando o pessoal que estava no barco de apoio sentiram o temor no casco e começou a receber alertas neste momento” com a ordem de retirada, contou Linares à AFP.
As autoridades suspenderam o alerta de tsunami duas horas depois. A decisão foi tomada depois que a base militar chilena Arturo Prat, na península antártica, registrou “uma variação de seis centímetros do nível do mar”, explicou Alicia Cebrián, diretora nacional do Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres (Senapred).
As autoridades e especialistas em geologia do Chile confirmaram que, apesar da grande intensidade do abalo sísmico no leito do oceano, não foram registradas ondas grandes e apenas um tsunami instrumental.
Um tsunami instrumental é um tipo de tsunami que, embora ocorra fisicamente no oceano, é tão pequeno que não é percebido pelas pessoas e não causa danos, sendo detectado apenas por instrumentos científicos sensíveis, como marégrafos (equipamentos que medem o nível do mar) e boias de monitoramento. Por isso, o nome “instrumental” — ele só é registrado por instrumentos.
Esses tsunamis geralmente têm amplitudes muito baixas, na ordem de milímetros ou poucos centímetros, e podem ser provocados por diversos eventos, como terremotos submarinos, deslizamentos de terra sob o mar, erupções vulcânicas, mudanças atmosféricas súbitas (como frentes de tempestade) ou até o impacto de meteoritos no oceano.
Mesmo sendo imperceptíveis para o ser humano, sua detecção é importante para o estudo de processos geofísicos e oceanográficos. Instrumentos modernos conseguem identificar alterações muito sutis na superfície do mar, o que permite que cientistas estudem até os menores sinais de perturbações no oceano.
Esses dados ajudam a entender melhor como tsunamis maiores se formam e se propagam, além de contribuírem para o aprimoramento dos sistemas de alerta precoce. Em alguns casos, um tsunami instrumental pode ser o primeiro sinal de um processo geológico maior em andamento.
O fato de um tsunami ser “instrumental” não significa que ele é irrelevante. Pelo contrário: sua identificação pode fornecer informações valiosas sobre a dinâmica interna da Terra e do fundo do mar, além de indicar a necessidade de vigilância em áreas onde grandes tsunamis já ocorreram no passado. Esses registros também servem para calibrar modelos numéricos usados na previsão de tsunamis mais perigosos.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.