Equipes de resgate e forças de emergência corriam contra o tempo nesta segunda-feira para alcançar sobreviventes após um ciclone devastador atingir o território francês de Mayotte, no Oceano Índico, destruindo casas por toda a região e deixando centenas de mortos temidos.
Imagens de Mayotte, que, assim como outros territórios ultramarinos franceses, é uma parte integrante da França governada a partir de Paris, mostraram cenas de devastação, com casas reduzidas a pilhas de escombros.
A crise, que começou no final de semana, um dia após o presidente Emmanuel Macron nomear François Bayrou como o sexto primeiro-ministro de seu mandato, representa um grande desafio para um governo que ainda opera em capacidade provisória.
O ciclone deixou os serviços de saúde em colapso, com o hospital gravemente danificado e centros de saúde fora de operação, disse a ministra da Saúde, Geneviève Darrieussecq, à emissora France 2.
“O hospital sofreu grandes danos causados pela água e destruição, principalmente nas unidades de cirurgia, cuidados intensivos, maternidade e emergência”, afirmou, acrescentando que “os centros médicos também estão inoperantes”.
Macron deverá presidir uma reunião de crise em Paris hoje à tarde, informou o Palácio do Eliseu. O ministro do Interior, Bruno Retailleau, cujo “superministério” é responsável por Mayotte, chegou à ilha.
O ciclone Chido causou grandes danos ao aeroporto de Mayotte e cortou a eletricidade, água e comunicações quando atingiu o território mais pobre da França no sábado no Oceano Índico.
Questionado sobre o eventual número de mortos, o prefeito François-Xavier Bieuville, principal representante de Paris no território, disse à emissora Mayotte la Première: “Acredito que definitivamente teremos várias centenas, talvez cheguemos a mil ou até mesmo vários milhares”.
Com estradas fechadas, as autoridades temem que muitas pessoas ainda possam estar presas sob os escombros em áreas inacessíveis. Todas as áreas da ilha foram afetadas pelo ciclone com devastação absoluta em alguns pontos.
O prefeito da capital de Mayotte, Mamoudzou, Ambdilwahedou Soumaila, disse à AFP que a tempestade “não poupou nada”. “O hospital foi atingido, as escolas foram atingidas. Casas estão totalmente devastadas”, afirmou.
Cerca de 160 soldados e bombeiros adicionais foram enviados para reforçar os 110 já em operação. A vizinha ilha francesa de Reunião está servindo como um centro para as operações de resgate.
“Cenas apocalípticas”
Chido atingiu Mayotte com ventos de pelo menos 226 km/h no sábado. Pelo menos um terço dos 320.000 habitantes do território vivem em favelas, onde casas com telhados de metal foram completamente destruídas pela tempestade.
Um residente, identificado como Ibrahim, disse à agência AFP que viu “cenas apocalípticas” enquanto percorria a ilha principal, tendo que limpar as estradas bloqueadas ele mesmo.
MUNDO | Imagens aéreas mostram danos catastróficos do ciclone tropical Chido no território francês de Mayotte, no Oceano Índico, entre Madagascar e a costa de Moçambique. Arquipélago francês foi arrasado pelo ciclone. 📷 Gendarmerie Nationale pic.twitter.com/SNs2tTWpoV
— MetSul.com (@metsul) December 15, 2024
Le cyclone Chido est l'une des catastrophes les plus destructrices que Mayotte ait jamais connues. Il a semé le chaos dans le département le plus pauvre de France. La population vivait en partie dans des bidonvilles soufflés par la tempête.#JT20H pic.twitter.com/RKoXWREsDl
— Le20h-France Télévisions (@le20hfrancetele) December 16, 2024
Enquanto as autoridades avaliavam a escala do desastre, um primeiro avião de ajuda chegou a Mayotte no domingo. Transportava três toneladas de suprimentos médicos, sangue para transfusões e 17 profissionais de saúde, segundo autoridades em Reunião.
Patrice Latron, prefeito de Reunião, disse que os moradores de Mayotte estão enfrentando “uma situação extremamente caótica, com imensa destruição”. Dois aviões militares devem seguir o voo inicial de ajuda, enquanto um navio-patrulha da marinha também deve partir de Reunião.
“Até o último minuto”
Houve promessas internacionais de ajuda a Mayotte, incluindo da organização regional da Cruz Vermelha, PIROI. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco “está pronto para fornecer apoio nos próximos dias”.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a OMS “está pronta para apoiar as comunidades que precisam de assistência essencial à saúde”.
Com cerca de 100.000 pessoas vivendo clandestinamente em Mayotte, segundo o Ministério do Interior da França, estabelecer quantas pessoas foram afetadas pelo ciclone está se mostrando difícil.
Ousseni Balahachi, um ex-enfermeiro, disse que algumas pessoas não ousaram sair para buscar assistência, “temendo que fosse uma armadilha” para removê-las de Mayotte. Muitos permaneceram em suas casas “até o último minuto”, quando já era tarde demais para escapar do ciclone, acrescentou.
Ciclone excepcional
O ciclone tropical Chido é o mais recente de uma série de tempestades alimentadas por mudanças climáticas, segundo especialistas. O ciclone descrito como “excepcional” foi supercarregado por águas particularmente quentes do Oceano Índico, explicou o meteorologista François Gourand, do serviço meteorológico francês Météo France, à AFP.
Chido quebrou vários recordes em sua jornada devastadora pelo sudoeste do Oceano Índico. Foi a tempestade mais forte a atingir Agaléga desde 1983, a mais forte a atingir Mayotte desde 1934, e apenas o terceiro ciclone de categoria 4 registrado a tocar terra em Moçambique.
Desde o impacto final de Chido ontem, foi relatado que a comunicação com a cidade portuária de Pemba, em Moçambique, foi perdida, mesmo sem a cidade ter enfrentado o impacto completo da parede do olho do ciclone. Além disso, foi informado que “muitas casas, escolas e instalações de saúde” foram destruídas.
Chido atravessou o Oceano Índico e atingiu Moçambique no domingo, onde autoridades informaram que o número de mortos chegou a três. A agência humanitária da ONU, OCHA, alertou que 1,7 milhão de pessoas estão em perigo, e os remanescentes do ciclone ainda podem causar “chuvas significativas” no Maláui até segunda-feira.
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