Cenas que marcaram a grande enchente de maio em Porto Alegre são revividas agora nas ruas de cidades da região de Valência na Espanha com uma onda de voluntários com solidariedade, saques isolados e uma quantidade enorme de destroços como moveis e eletrodomésticos nas calçadas.
Há uma enorme mobilização do governo e da sociedade para socorrer as vítimas da chuva colossal de 500 mm em poucas horas que atingiu a região espanhola da Valência na terça-feira. O número de mortos oficial na manhã desta sexta-feira tinha subido para 205.
Cerca de 500 soldados espanhóis juntaram-se nesta sexta-feira aos 1.200 que tentam aliviar a situação da população de Valência após as cheias mortais e encontrar as dezenas de desaparecidos.
“Se for necessário, estarão presentes os 120 mil militares”, prometeu nesta sexta-feira a ministra da Defesa, Margarita Robles, numa entrevista à televisão pública TVE. “Haverá todos os meios necessários, o tempo necessário”, insistiu o Ministério da Defesa sobre a magnitude do desastre nas redes sociais.
As fortes tempestades que atingiram a zona na terça-feira, e que despejaram em poucas horas uma quantidade de água equivalente à que cai num ano, provocaram inundações que destruíram pontes, arrasaram casas e arrastaram centenas de veículos que acabaram amontoados. nas ruas e estradas e que agora dificultam o deslocamento dos serviços de emergência.
Muitos desses carros “estarão vazios, mas outros, temos certeza, terão corpos”, disse Amparo Fort, prefeita do município de Chiva, à rádio pública RNE. Esta cidade de 16.000 habitantes, a 40 minutos a Oeste da cidade de Valência, vive uma situação dramática, disse a prefeita.
“Continuamos pedindo água, continuamos pedindo mantimentos”, explicou ela entre lágrimas. “Devemos lembrar que há crianças, que temos idosos” que não conseguem mastigar, “precisamos de comida triturada para bebês e para idosos”.
Aos problemas normais derivados da situação, juntaram-se os saques, face aos quais o governo prometeu firmeza e que já resultaram em 39 detenções. “Parei na rótula do centro comercial e as pessoas entravam para pegar calças, roubavam…” Fernando Lozano, morador de Aldaia, cidade do interior de Valência, explicou à AFP na quinta-feira. “As pessoas estão um pouco malucas porque até que isto se normalize e o supermercado abra, aqui está muito mal.” argumentou.
Na cidade de Valência, capital da região terceira cidade de Espanha, menos afetada pela tragédia que atingiu o seu entorno, foi instalada uma grande morgue no complexo que alberga os tribunais, para agilizar a identificação dos corpos.
Ambulâncias iam e vinham, observou um jornalista da AFP, enquanto agentes de jaleco entravam no prédio acompanhando macas cobertas com lençóis brancos. A área foi isolada pela polícia e os jornalistas foram mantidos à distância, sendo permitida a entrada apenas aos familiares do falecido, aos poucos.
Da mesma cidade, partiu esta sexta-feira um exército solidário de centenas de vizinhos em direção às zonas afetadas, aproveitando o feriado de Todos os Santos para ajudar.
Carregavam pás, vassouras, carrinhos de comida, fraldas, água. Qualquer coisa valia a pena para dar uma mão. Alguns atenderam ao chamado de amigos, outros apenas para ajudar no que pudessem diante de uma tragédia histórica.
O governo local emitiu comunicado no qual pede aos voluntários que não se desloquem de forma alguma às áreas afetadas pela DANA “porque as estradas de acesso estão em colapso e os serviços de emergência não conseguem chegar”.
Quanto choveu
Em Chiva, Oeste de Valência, o acumulado de chuva foi absurdamente alto. Caíram 491,2 mm em apenas oito horas, ou seja, um ano de chuva em apenas um terço do dia. Em apenas quatro horas, a precipitação somou 343 mm. Outros registros na província de Valência por estações meteorológicas automáticas apontaram ainda 300 mm em Bunyol e em Requena.
Por que choveu tanto
A chuva extraordinária que atingiu Valência foi efeito de um complexo cenário meteorológico envolvendo um bloqueio atmosférico. A causa maior foi o que se chama em Espanhol de DANA, o que aqui no Brasil denominamos de centro de baixa pressão em médios e altos níveis da atmosfera ou baixa segregada ou fria.
Havia uma bolha de calor no Norte da África no momento do evento extremo de chuva, contribuindo para a instabilidade extrema com a formação de nuvens carregadas sobre o Mediterrâneo que avançaram para o Sul da Espanha, acompanhando a chamada baixa segregada.
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