O Oceano Pacífico está neste começo de julho em condição de neutralidade, ou seja, sem a presença dos fenômenos El Niño ou La Niña, situação que persiste desde o mês de maio, embora a agência de tempo e clima dos Estados Unidos (NOAA) tenha declarado o fim do El Niño apenas em junho.
De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central (região Niño 3.4) está em 0,4ºC.
O valor estava no limite superior da faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC), depois de ter estado em +0,3ºC na semana anterior. É a oitava semana seguida em que a região do Pacífico Equatorial Centro-Leste se encontra com anomalias de temperatura do mar na faixa de neutralidade.
Chama atenção que as anomalias de temperatura da superfície do mar nesta área do Pacífico Equatorial chegaram a 0,0ºC em meados de maio e desde então se elevaram até alcançar os 0,4ºC do boletim desta semana. As áreas mais frias que apareciam nas últimas semanas sumiram e surgiram vários pontos com temperatura do mar acima da média, o que é inconsistente com uma transição para La Niña no curto prazo.
Já o Pacífico Equatorial nos litorais do Peru e do Equador, a denominada região Niño 1+2, estava na última semana com anomalia da superfície do mar de -0,6ºC. Ou seja, o Pacífico Equatorial passa por resfriamento junto à costa da América do Sul.
Esta é a oitava semana consecutiva em que esta parte do Pacífico apresenta anomalia de temperatura da superfície do mar abaixo da média, mas na segunda metade de maio as anomalias chegaram a -1,1ºC.
Historicamente, resfriamento desta região do Pacífico junto aos litorais do Equador e do Peru durante o inverno tende a favorecer mais frio nos países do Prata (Argentina e Uruguai) assim como no Rio Grande do Sul. Já o efeito sobre a chuva é maior no verão quando há resfriamento deste setor do Oceano Pacífico.
Neutralidade vai durar mais que o previsto pela NOAA
A tendência é que nas próximas semanas, considerando os valores de temperatura do mar do momento, as condições de neutralidade ainda persistam no Oceano Pacífico Equatorial, assim a MetSul Meteorologia não enxerga condições propícias para a declaração de um evento de La Niña no curto prazo.
Conforme a mais recente estimativa do Centro de Previsão Climática (CPC) da NOAA, para o trimestre de julho a setembro, a probabilidade estimada é de 1% de El Niño, 34% de neutralidade e 65% de La Niña. Já no trimestre de agosto a outubro, 1% de El Niño, 24% de neutro e 75% de La Niña.
No trimestre de primavera, entre setembro e novembro, 1% de El Niño, 18% de neutro e 81% de La Niña. No trimestre de verão, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, também 1% de El Niño, 18% de neutralidade e 81% de La Niña.
Com base nas condições atuais do Pacífico, não será surpresa se a NOAA revisar as suas projeções, diminuindo a probabilidade de La Niña no trimestre que compreende a segunda metade do inverno, julho a setembro, e retardando a instalação de um evento do fenômeno.
Mais do que isso, com base nos dados de temperatura do mar abaixo da superfície, a probabilidade de um evento de La Niña de maior intensidade em nossa análise da MetSul é cada vez mais remota com sinal de que a neutralidade pode durar mais do que o projetado pela agência do governo norte-americano.
Quase todos os modelos que integram o NMME (North America Multi-Model Ensemble), no gráficoa acima, indicavam o Pacífico Equatorial Centro-Leste com anomalias negativas neste começo de julho e alguns até em patamar de La Niña (abaixo de -0,5ºC), mas não é o que se observa nos dados reais diários, o que indica que os modelos não estão antecipando o cenário corretamente do Pacífico e as projeções de La Niña terão que ser revistas.
O que é o fenômeno La Niña
O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.
Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a La Niña esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.
No Brasil, os efeitos do La Niña variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.
Além da chuva, a La Niña também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.
Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.
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