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Bolha de calor com temperaturas de até 44ºC a 45ºC no centro do continente provoca marcas nos termômetros muito acima dos padrões históricos em áreas do Centro-Sul do Brasil. O pior do calor, entretanto, tem ocorrido no Norte da Argentina, no Paraguai e na Bolívia com máximas muito elevadas e que se situam entre 42ºC e 45ºC.

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A temperatura ontem na Argentina chegou a 44,3ºC em Las Lomitas (Formosa), 43,5ºC em Rivadavia (Salta) e 41,7ºC em Roque Saenz Peña (Chaco). Na segunda-feira, as máximas na Argentina alcançaram 42,6ºC em Las Lomitas e 41,5ºC em Rivadavia. No domingo, os termômetros tinham indicado 44ºC nas duas cidades.

O Serviço Nacional de Meteorologia da Argentina, devido à persistência do calor com marcas extremas, decidiu emitir um alerta vermelho por altas temperaturas para setores das províncias de Salta, Formosa e o Chaco, no Norte do país.

De acordo com os parâmetros do SMN argentina, um alerta vermelho por calor significa que as altas temperaturas têm “efeito alto a extremo na saúde” com condições que são descritas como “muito perigosas” e que “podem afetar todas as pessoas, inclusive as saudáveis”.

No Paraguai, as máximas da terça-feira foram de 43,0ºC em Mariscal Estigarribia, 42,8ºC em Pozo Colorado, 41,5ºC em Concepción e 41,4ºC em General Bruguez. Na segunda, a temperatura havia chegado a 42,0ºC em Pozo Colorado e 41,5ºC em Mariscal. No domingo, tanto Mariscal Estigarribia como Pozo Colorado anotaram 42,2ºC.

O calor extremo pela bolha de calor faz se sentir também na Bolívia, fora da região do altiplano. Estações oficiais do serviço meteorológico boliviano indicaram na terça-feira marcas de 42,4ºC em San José de Chiquitos e 41,2ºC em Villamontes.

Bolha de calor tem reflexos no Brasil

A bolha de calor que se instalou no centro do continente tem reflexos no Brasil com calor muito acima da média para janeiro em setores do Centro-Oeste e do Sudeste, além de áreas mais a Oeste e ao Norte do estado do Paraná, na Região Sul.

A temperatura máxima na terça no Mato Grosso do Sul chegou a 40,6ºC no município de Porto Murtinho, na fronteira com o Alto Paraguay. No Paraná, a máxima foi a 39,4ºC em Marechal Cândido Rondon, no Oeste. São Paulo anotou também 39,4ºC na cidade de Registro. Na rede do Ciiagro, cinco estações marcaram mais de 40ºC ontem no interior de São Paulo.

Na capital paulista, a temperatura atingiu 34,3ºC no Mirante de Santana na tarde de ontem, a mesma máxima que já havia sido anotada na segunda-feira. No domingo, a estação de referência climatológica da cidade de São Paulo teve 33,1ºC. São máximas muito acima do normal para esta época do ano na capital, uma vez que a temperatura máxima média de janeiro é de 28,6ºC.

O calor já tinha sido muito intenso na segunda em muitas áreas com registros de 40,2ºC em Água Clara (MS), 39,4ºC em Registro (SP) e 38,8ºC em Marechal Cândido Rondon (PR). No domingo, Porto Murtinho (MS) havia alcançado 40,1ºC. Com isso, são três dias seguidos com mais de 40ºC em estações oficiais do Mato Grosso do Sul.

A frequente formação de áreas de instabilidade com chuva e temporais tem impedido que o calor mais extremo do Norte da Argentina e o Paraguai se instale no Rio Grande do Sul. Por outro lado, a atmosfera aquecida com maior umidade vem favorecendo os temporais desde o começo da semana no estado gaúcho, com danos e prejuízos em diferentes localidades.

Calor extremo no Centro do Brasil é mais comum na primavera

Mas por que calor com esta intensidade é incomum no Centro do Brasil se estamos em janeiro e no auge do verão? Fazer calor é normal, mas extremos de 40ºC ou perto de 40ºC não são habituais nesta época que costuma ser mais chuvosa no Centro-Oeste e no Sudeste. São Paulo, por exemplo, tem em janeiro o mês mais chuvoso do ano.

Normalmente, no Centro-Oeste e na maior parte do Sudeste, a maior umidade desta época favorece chuva à medida que o dia aquece, frustrando extremos de calor. Por isso, as maiores máximas e os recordes absolutos na climatologia anual se dão na primavera, quando está mais seco.

Em Goiânia, por exemplo, de acordo com a estatística 1991-2020, a cidade teve, em média, por ano, 4 dias acima de 35ºC em agosto, 13 em setembro e 9 em outubro, entretanto somente um em média em dezembro, janeiro e fevereiro.

A exceção no Sudeste no verão fica com o litoral de São Paulo e o Rio de Janeiro, que têm entre os meses de dezembro e março os mais quentes do ano e com as maiores máximas, não raro extremas que ficam perto ou acima dos 40ºC durante a tarde.

CPTEC

As temperaturas muito acima do normal desta época, aliás, repetem o que já ocorreu em dezembro no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil. Como a chuva modula a temperatura nesta época, as precipitações abaixo da média no últimos mês e ainda agora em janeiro têm favorecido estes extremos de calor que normalmente se dariam na primavera, época menos chuvosa.

O calor segue?

Sim, por ora. Tanto hoje como amanhã serão dias de calor muito intenso a extremo ainda no Paraguai e no Norte da Argentina, o que vai se refletir na temperatura em cidades mais ao Norte da Região Sul, em parte do Sudeste e especialmente no estado do Mato Grosso do Sul. Novas máximas ao redor de 40ºC podem ocorrer no estado.

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Na sexta-feira, embora siga quente, o calor extremo deve ceder nos países vizinhos e, por efeito, no Centro-0este e no Sudeste. Assim, a sexta e o sábado devem ter máximas menores. Ocorre que no começo da semana que vem o ar quente vai voltar a se reforçar no Norte da Argentina e no Paraguai.

O que é uma bolha de calor

Uma bolha de calor, que se denomina também de domo ou cúpula de calor (em Inglês é chamada de heat dome) ocorre com áreas de alta pressão que atuam como cúpulas de calor, e têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar.

Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela. Esta bolha de calor de agora vai estar com seu centro entre o Paraguai e o Centro-Oeste do Brasil.

É, assim, um processo físico na atmosfera. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor. À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

Evidências de estudos sugerem que a mudança climática está aumentando a frequência de cúpulas de calor intensas, bombeando-as para mais alto na atmosfera, algo não muito diferente de adicionar mais ar quente a um balão de ar já aquecido. Por isso, vários estudos apontam aumento da intensidade, duração e frequência de ondas de calor no Brasil e ao redor do mundo.

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