Uma bandeira americana é vista soprando em meio aos destroços no bairro de Arabi em 23 de março de 2022 em Nova Orleans, Louisiana. Dois tornados atingiram Nova Orleans na noite anterior, deixando vários bairros com estragos e pelo menos uma pessoa morta. Um dos tornados foi um EF-3 e o mais intenso até hoje a atingir Nova Orleans. | BRANDON BELL/GETTY IMAGES/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os Estados Unidos tiveram recorde de tornados para o mês de março com 210 ocorrências confirmadas. A marca de 2022 supera o recorde anterior de 192 em março de 2017. Os números ainda podem subir à medida que os levantamentos de campo pelo Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) forem concluídos.

Com três grandes eventos de tempo severo, sendo um no início de março e dois no final do mês, os episódios foram intensos, especialmente para o início do ano. As ondas de tornados consecutivas no final do mês com ao menos 75 tornados foram notáveis, considerando a média nacional de março de 80 tornados. Um dos episódios mais marcantes ocorreu na cidade de Nova Orleans, atingida diretamente por um tornado.

A contagem de mais de 200 eventos é comparável aos números esperados em abril e junho, que são tipicamente meses de muitos tornados nos Estados Unidos. Especialistas, entretanto, advertem que o número pode não ser tão significativo quanto parece porque a tecnologia de radar nos últimos 15 anos tornou mais fácil detectar o fenômeno, potencialmente inflando as estatísticas. Apesar disso, as ondas de tornados e as perdas de vidas e propriedades revelam uma vulnerabilidade crescente, particularmente no Sul dos Estados Unidos.

Dois ingredientes se uniram para impulsionar a atividade de tornados do mês de março, explicam os meteorologistas norte-americanos. O primeira foi a instabilidade, gerada por altas temperaturas e umidade abundante, enquanto o segundo foi o cisalhamento do vento, ou uma mudança na velocidade e direção do vento com a altitude, que pode dar às nuvens de tempestade a rotação para a formação de tornados.

Os experts especulam que a tecnologia mais avançada de detecção pode ter inflado as estatísticas ao captarem eventos que no passado passavam sem registro porque hoje os radares em uso nos Estados Unidos são capazes de identificar tornados do tipo QLCS, sigla para sistemas convectivos quase-lineares. São linhas poderosas de tempestade, muito comuns no Sul do Brasil nos meses de inverno e primavera com o avanço de ar frio.

Os tornados QLCS geralmente são fracos, de curta duração e envoltos em chuva, e historicamente eram difíceis de detectar. Como resultado, muitos não entraram para as estatísticas. As atualizações do radar Doppler nos últimos 15 anos desvendaram muitos mistérios e ajudaram a identificar esse tipo de tornado.

Uma tecnologia conhecida como dupla polarização permite que os observadores de radar confirmem muitos tornados tocando terra à medida que eles acontecem. É o que abre o debate se está em curso um grande aumento nos tornados ou se os cientistas hoje estão encontrando mais tornados do que teriam feito no passado graças às modernas técnicas de monitoramento.