O verão 2021/2022 começa nesta terça-feira (21) no Hemisfério Sul às 12h59 (hora de Brasília). A estação tem início com o Pacífico Equatorial Central sob a influência do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. É o segundo verão seguido com La Niña e que deve atingir seu pico agora ao redor da virada do ano com intensidade moderada. A La Niña persistirá o verão inteiro, mas com tendência de enfraquecimento no decorrer da estação. Isso, contudo, não significa que seu efeito no clima cesse ou se atenue de imediato.

O verão de 2021 vai apresentar a comum irregularidade da chuva da estação no Rio Grande do Sul com significativa variabilidade nos totais de chuva de uma área para outra. Neste verão, a chuva tende a ser ainda mais irregular do que o normal com valores abaixo das médias históricas e déficit de precipitação em muitas áreas. Em algumas regiões, no decorrer da nova estação, a estiagem pode atingir níveis de moderada a forte com possibilidade de ser severa em alguns municípios.


Com isso, partes do Estado devem voltar a enfrentar problemas de falta de chuva mais volumosa com perda de produtividade nas safras de verão, diminuição dos níveis dos rios, risco de escassez de água para consumos humano e animal e mais decretos de emergência por seca, além de risco acentuado de incêndios em vegetação (queimadas).

A despeito do quadro de chuva irregular, devem ser esperados episódios pontuais de chuva volumosa a excessiva, de curta duração, e com características ou localizadas ou regionalizadas. Em regra, acompanham temporais passageiros de verão em diaso quentes e mais úmidos, mas também podem ocorrer por ciclones ou, no caso do Litoral Norte, por fluxo de ar úmido do oceano.

Do ponto de vista da climatologia histórica, as regiões Norte, Leste e Nordeste do Estado têm uma maior propensão a estes episódios de chuva volumosa, sobretudo o Litoral Norte que sofre maior influência das correntes de umidade que atuam nesta época do ano no Sudeste do Brasil e nos litorais de Santa Catarina e do Paraná.


No caso do verão de 2022, a Metade Norte do Rio Grande do Sul e áreas mais próximas da costa devem ter mais chuva, apesar de irregular, que o Sul, o Centro, a Campanha e o Oeste que terão um risco de estiagem maior. A Metade Norte, que concentra a maior parte da produção agrícola do Estado, ainda assim terá períodos secos com déficit hídrico, sobretudo no começo da estação e no seu final.

A despeito de a La Niña trazer chuva mais irregular e aumentar o risco de estiagem, a climatologia histórica mostra que em parte do Rio Grande do Sul muitas vezes janeiro tem chuva acima da média, o que pode ocorrer em 2022. Há dados indicando que a Metade Norte em vários pontos poderia ter precipitação mais favorável em janeiro e que prosseguiria de forma localizada no mês de fevereiro. É um cenário mais favorável para a soja, entretanto tardio para o milho pela chuva abaixo da média do final de 2021.

O verão é a época em que tradicionalmente ocorrem pancadas localizadas e passageiras de chuva que se dão, em regra, da tarde para a noite em dias de calor e umidade alta. Não raro chegam são acompanhadas de temporais, alguns fortes de vento e granizo, e podem despejar volumes altos de chuva em curto período com transtornos nas cidades por alagamentos.


Casos mais extremos, sobretudo em dias de calor muito intenso com marcas entre 35ºC e 40ºC, trazem até tempestades severas com estragos por granizo, chuva excepcionalmente volumosa em curto período, vendavais, tornados e correntes descentes violentas de vento (downburst), como se viu em Porto Alegre em 29 de janeiro de 2016.

No Brasil, a chuva tende a ficar acima da média em muitas áreas do Centro-Oeste, do Sudeste e do Nordeste, permitindo uma recuperação mesmo que parcial dos reservatórios das hidrelétricas. A chuva pode ficar acima ou muito acima da média em pontos do Mato Grosso, Goiás, Centro e Norte de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins e na maior parte do Nordeste.

Em áreas do Norte do Mato Grosso do Sul, Sul do Mato Grosso, Goiás, Norte de Minas Gerais e no Oeste e no Sul da Bahia o verão deve ter chuva muito acima da média com elevado risco de novos desastres pelo excesso de precipitação. Os tradicionais episódios de chuva excessiva do verão que trazem inundações e deslizamentos, não raro de forma trágica, têm um maior risco de ocorrência neste verão no Sudeste e mesmo em áreas do Nordeste, inclusive em regiões que são tradicionalmente conhecidas pela seca.

O tradicional calor, obviamente, se fará presente. MetSul projeta estação com temperatura acima da média histórica na grande maioria ou totalidade das cidades gaúchas com algumas jornadas de calor muito intenso em que as máximas devem ficar próximas ou até superarem os 40ºC em partes do Estado.

Como se antecipa um verão com períodos secos e alguns até longos, e uma vez que longos intervalos secos tendem a favorecer extremos de calor, é alta a probabilidade que se registrem fortes ondas de calor neste verão, não se descartando até uma ou outra intensa.

Eventos de calor extremo e mesmo incomuns pela grande intensidade das ondas de calor devem ser registrados no Centro e no Nordeste da Argentina, onde a estiagem pode ser severa. Como consequência, os efeitos serão sentidos no Oeste, Centro e Sul gaúcho que podem experimentar eventos ou dias de calor muito intenso e com extremos de temperatura.

Mesmo sendo verão é provável que ocorram na estação dias de temperatura amena com maior influência de rápidas passagens de ar frio de trajetória marítima afetando mais o Sul e o Leste do Estado, especialmente em março. A influência do fenômeno La Niña, aliás, pode trazer alguns dias de temperatura baixa mais cedo que o habitual no final de verão e no começo do outono, como é costumeiro quando o ano começa com o Pacifico mais frio do que a média.

A La Niña também interfere no vento no Rio Grande do Sul. Os pulsos de ar frio de trajetória marítima atuarão em alguns momentos sobre o Atlântico Sul perto da costa gaúcha e o vento “Nordestão” nas praias se fará presente em nosso litoral, para o incômodo dos veranistas,

Por outro lado, como neste verão espera-se temperatura mais alta do mar na nossa costa com ingresso da Corrente do Brasil favorecido pelo quadro de precipitação deficiente a partir de frentes frias que chegam fracas ou mesmo desviam do Estado, os veranistas tendem a enfrentar menos dias com Nordestão e vão desfrutar mais dias com mar claro e quente.

Neste verão, especialmente na segunda metade da estação, e no começo do outono, devido à menor divergência de vento na atmosfera resultante do tempo mais seco e menor frequência de frentes frias com a estiagem, há um risco muito aumentado de formação de ciclones atípicos na costa do Rio Grande do Sul e do Sul do Brasil, seja de natureza subtropical ou mesmo tropical, raros na nossa climatologia.